sábado, 17 de maio de 2008
Portugueses aprovam reforma ortográfica
Publicado em 17.05.2008
Via: Jornal do Commercio - Recife
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Ratificação da proposta de unificação da língua portuguesa aconteceu após 16 anos. No Brasil, o MEC prepara treinamento de professores
BRASÍLIA - O Parlamento de Portugal aprovou ontem o acordo ortográfico que unifica a forma como é escrito o português nos países lusófonos. As mudanças vão valer dentro de seis anos. No Brasil, onde o acordo já foi aprovado, os livros escolares deverão ser modificados até 2010. O governo brasileiro já prepara um cronograma para treinamento dos professores da educação básica.
O conteúdo do acordo foi aprovado há 16 anos, mas não podia entrar em vigor sem que pelo menos três Parlamentos de países de língua portuguesa o ratificassem. Além de Portugal, Brasil, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde já ratificaram o texto. Faltam Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor Leste. Cerca de 230 milhões terão que se adequar às mudanças.
O texto foi aprovado ontem por deputados de todos os quadrantes políticos, com três votos contrários e muitos deputados abandonando o plenário durante a votação. A iniciativa contrária à reforma com maior impacto em Portugal foi uma petição na internet, que tentou convencer parlamentares a votar contra o acordo.
Os estudos lingüísticos que basearam o acordo indicam que os portugueses terão mais modificações do que os brasileiros. O dicionário português terá de trocar 1,42% das palavras, enquanto no Brasil apenas 0,43% sofrerão mudanças.
Para os portugueses, caem as letras não pronunciadas, como o “c” em acto, direcção e selecção, e o “p” em excepto e baptismo. A nova norma acaba com o acento no “a” que diferencia o pretérito perfeito do presente (em Portugal, escreve-se “passámos”, no passado, e “passamos”, no presente).
Algumas diferenças vão continuar. Em Portugal, polémica e génesis manterão o acento agudo – o Brasil continuará escrevendo com o circunflexo.
O ministro da Educação do Brasil, Fernando Haddad, deu ordem ontem para a Secretaria de Educação Básica estabelecer um cronograma para o treinamento dos professores da educação básica. O MEC estuda a elaboração de uma cartilha com o novo vocabulário.
Na opinião do presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni, o acordo é bom para os dois países. “São 10 milhões de pessoas em Portugal e mais de 180 milhões no Brasil, e os livros portugueses não são bem-vindos no Brasil. Para eles, é um mercado enorme, e para nós também será ótimo”, afirmou.
Para o ex-presidente da ABL, Marcos Vilaça, a simplificação do emprego do idioma vai possibilitar o incremento das relações culturais.
Professores do ensinos fundamental e médio disseram acreditar que não haverá grandes dificuldades de adaptação à reforma ortográfica. “As mudanças não serão grandes e algumas já deveriam ter ocorrido anteriormente. O trema, por exemplo, praticamente nem se usa”, disse Carlos Ramiro, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo.
terça-feira, 13 de maio de 2008
29 - Gabriela: uma cinqüentona na flor da idade
ASTIER BASÍLIO
Jornal da Paraíba – 13/05/2008
NA TELA - Aos 25 anos, Sônia Braga personificou Gabriela na TV e sua imagem se mantém até hoje
Faltavam dois dias para o jantar que celebrava a instalação da linha das marinetes entre Ilhéus e Itabuna. Seu Nacib, o comerciante turco, não se importava muito com a tragédia que abalava a cidade, a morte de dona Sinhazinha Guedes e o amante, o dentista Osmundo, assassinados pelo coronel Jesuíno Mendonça, que com o ato lavava sua honra de marido traído.
É assim que começa o romance Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado (1912–2001). A obra completa, neste mês de maio, 50 anos de publicação.
Mais do que uma historiazinha de amor entre o turco Nacib e a cozinheira Gabriela, retirante fugida da seca e encontrada no “mercado dos escravos”, o romance mostra o confronto entre duas perspectivas políticas: a progressista, representada pelo exportador de cacau, o forasteiro Mundico Falcão, contra os conservadores, liderados pelo coronel Ramiro Bastos.
Celebrada na televisão, através de uma novela exibida na Rede Globo em 1975 (antes houve uma adaptação para a TV Tupi, em 1960) e no cinema pelas mãos de Bruno Barreto, em 1983, nesses dois momentos a imagem da personagem ganhou forma e beleza através da atriz Sônia Braga, com 25 anos na época da novela. Além do cinema, Gabriela também virou fotonovela, espetáculo de dança e história em quadrinhos.
Gabriela Cravo e Canela foi traduzido para mais de 30 línguas entre as quais hebraico, persa e ucraniano. Até hoje são 80 edições da obra.
Para o professor de literatura Chico Viana, Gabriela é um romance mais bem composto. “Como diria o Osman Lins, o romance se caracteriza por criar um universo próprio. E nesse livro Jorge Amado dá receitas, cita trechos de jornal, enfim, uma série de elementos, além de personagens verossímeis”, conta.
Se hoje em dia a imagem de Sônia Braga é quase indissociável da personagem Gabriela, sua escolha foi motivo de crítica do dramaturgo Plínio Marcos. Ele disse, no jornal A Última Hora, que era para a TV Globo ter escalado uma mulata, e não mandar Sônia Braga ir à praia se bronzear.
O tempo mostrou que o carisma de Sônia Braga sobreviveu, inclusive, à desastrada adaptação ao cinema. Conta-se que Jorge Amado poderia ter tido alguma influência na escolha do papel para Sônia Braga.
Uma vez perguntaram isso a ele. Jorge não perdeu o humor e disse: “Ah, eu escolhi a Sônia, porque ela é minha amante”. Era uma brincadeira, mas na dedicatória do livro, o escritor, que tanto amava as mulheres e quem dedicara vários outros livro, já tratava de fazer uma média com sua esposa e escrevia: “Para Zélia, seus ciúmes (...)”.
Na opinião do professor de cinema da UEPB, Rômulo Azevedo, o filme de Bruno Barreto é “lastimável”. “Por incrível que pareça, a adaptação para televisão é muito melhor. O Nacib do Mastroianni é muito fraco; o Armando Bógus dá de dez a zero. Bruno Barreto foi melhor em Dona Flor e Seus Dois Maridos (outro romance de Jorge Amado)”, opina Azevedo.
No final do romance, o coronel é condenado, Mundico Falcão torna-se o líder político e Gabriela, que se casara com seu Nacib, se separara, volta ao aconchego de antes com a liberdade que unia inocência e sensualidade, na cozinha do turco, para a felicidade geral do povo de Ilhéus.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
28 - verbo VIR
"Só 30% do colesterol vêm da alimentação". Qual o erro?
A frase acima, do ponto de vista gramatical, contém um erro.
Em frases com porcentagem, ocorre o seguinte mecanismo de concordância, quando há apenas o numeral:
1% vem da alimentação (singular)
30% vêm da alimentação (plural)
Se a frase traz também o substantivo, a regra é um pouco diferente. Veja a dica
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30% do colesterol vem (ou vêm?)
Por Paulo Ramos
Dúvida de uma colega de redação, que me procurou hoje à tarde:
- Apenas 30% do colesterol vêm da alimentação
Ela queria saber se a frase acima estava correta do ponto de vista normativo.
Não estava, não.
Em frases com porcentagem, ocorre o seguinte mecanismo de concordância.
Se houver apenas o número, a concordância é feita de acordo com esse número:
- 1% vem da alimentação (singular)
- 30% vêm da alimentação (plural)
Se o número vier especificado, a concordância é feita, então, com a palavra, e não com o número:
- Apenas 1% do colesterol vem da alimentação
- Apenas 30% do colesterol vem da alimentação
- Apenas 1% das calorias vêm da alimentação
- Apenas 30% das calorias vêm da alimentação
A frase inicial, como se vê, deveria ter sido escrita com verbo no singular para concordar com "colesterol", também no singular.
Um abraço,
Paulo Ramos
Paulo Ramos
Paulo Ramos é jornalista, professor e consultor de língua portuguesa do Grupo Folha-UOL
27 - Centenário: Machado e Guimarães
CONSULTEXTO
Ano 08 - nº 391 - 24/03/2008
GUIMARÃES ROSA E MACHADO:
DOIS CENTENÁRIOS E UMA IRONIA
No ano em que Machado de Assis falecia, 1908 (em 29 de setembro, no Rio de Janeiro), nascia em Minas, em Cordisburgo, em 27 de junho, João Guimarães Rosa, que viria a ser o único escritor brasileiro do século 20 a rivalizar em grandeza artística com o autor de Dom Casmurro.
Machadianos, rosianos e diversas instâncias culturais brasileiras preparam-se para as celebrações que lembrarão a vida e a obra dos dois gênios de nossa literatura.
A ironia dessas efemérides (pouca gente sabe): Guimarães Rosa nunca foi apreciador de Machado de Assis...
sábado, 29 de março de 2008
26 -Antônio Bezerra de Menezes - Notas de Viagem
Ref.: Ipu no Topo do Mundo
Por Airton Soares
CADA UM ESPICHA O ASSUNTO
------- de acordo com sua área de interesse.
ASSIM SENDO, VALI-ME DA MENSAGEM
------- do confrade Olívio Martins ( AFAI-29/03/2008- Ipu no Topo do Mundo ) para pesquisar sobre o famoso polígrafo cearense Antonio Bezerra de Menezes, o qual foi um dos fundadores, em 4 de março de 1887, juntamente com Juvenal Galeno, Barão de Studart, José Sombra, entre outros, do Instituto Histórico, Antropológico e Geográfico do Ceará.
ANTÔNIO BEZERRA DE MENEZES
------- Nascimento: 21.02.1841 - Falecimento: 28.08.1921
POR TER MORADO DÉCADAS
------- na área, o bairro “Antônio Bezerra”, em Fortaleza, (antes Barro Vermelho), leva o nome do escritor cearense.
NOTAS DE VIAGEM – TRECHO I
------- “É no dia 12 de setembro desse mesmo ano,(1884) uma sexta-feira, à meia-noite, que Antônio Bezerra de Menezes, o famoso polígrafo cearense, por ordem do governo provincial, a bordo do vapor Cabral, parte de Fortaleza em comissão ao interior, a fim de colher dados e informações – quer dizer, fazer um exame clínico – do Norte cearense.” (...)
NOTAS DE VIAGEM – TRECHO II
------- “No dia 1º de novembro (1884), Bezerra de Menezes, conclui o serviço, mas só na tarde do dia 4 põe-se a caminho do IPU, onde entra às 10 da noite. Dia 7, pela madrugada, deixa IPU.” (Citado por Cláudio Ferreira Lima – Ver referência 2)
O LIVRO NOTAS DE VIAGEM
------- Foi publicado pela Imprensa Universitária do Ceará no ano de 1965.
REFERÊNCIAS
1 - http://www.institutodoceara.org.br/
2 - http://www.dnocs.gov.br/~conviver/artigos.php?id=26
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1884 - ANO VENTUROSO
No dia 25 de março o Ceará, pioneiramente, liberta os escravos e, por isso, passa a ser a “Terra da Luz”.
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Visite meu blog Li por Aí
http://airton.soares.zip.net/
é diFÉrente.
AS
Cláudio Ferreira Lima
http://www.dnocs.gov.br/~conviver/artigos.php?id=26
O século XIX caracteriza a inserção mais ampla e profunda do Brasil na economia-mundo. É quando a mudança no estilo de vida dos países ricos aumenta e diversifica os negócios do país com o exterior, que passa a demandar, entre outros produtos, borracha, algodão, café, cacau e fumo.
Essa nova conjuntura internacional beneficia o Ceará, em especial por meio das exportações de algodão, café, cera de carnaúba e borracha da maniçoba. Daí por que esse século, e principalmente por causa da sua segunda metade, é considerado “o século de afirmação do Ceará” (1).
Em 1884, pontualmente, a então Província ainda se refaz da terrível seca de 1877-1879, que lhe deixa profundas seqüelas, tanto pelos que morrem quanto pelos que deixam o torrão natal em busca de escapar em outros lugares do país, em especial no Norte do Brasil.
Mas 1884 é também ano venturoso. No dia 25 de março o Ceará, pioneiramente, liberta os escravos e, por isso, passa a ser a “Terra da Luz”.
Enfim, nesse período, o Império vive o seu ocaso, amiudando-se os conflitos da Igreja e dos militares com o trono.
É no dia 12 de setembro desse mesmo ano, uma sexta-feira, à meia-noite, que Antônio Bezerra de Menezes, o famoso polígrafo* cearense, por ordem do governo provincial, a bordo do vapor Cabral, parte de Fortaleza em comissão ao interior, a fim de colher dados e informações – quer dizer, fazer um exame clínico – do Norte cearense.
O escopo da viagem
A chamada viagem científica se especializa e se torna rotina nos séculos XVIII e XIX (2). Portugal organiza, por intermédio de Domingos Vandelli, diretor do Museu d’Ajuda, professor da Universidade de Coimbra e membro da Academia Real de Ciências, diversas incursões planejadas de naturalistas às colônias. E isso se dá segundo uma política bem arquitetada que concilia a motivação científica com os ganhos econômicos.
Com a chegada da família real em 1808 ao Brasil, as viagens da espécie se intensificam de tal modo que essa fase fica conhecida como a do “novo descobrimento do Brasil”. O governo imperial dá a elas apoio financeiro, mas, para receber dele o patrocínio, têm de atender aos interesses da nação.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1818) – IHGB, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (1827) – SAIN e o Museu Nacional (1838) oferecem o respaldo institucional a tais iniciativas.
Na tradição de viagem científica ao Ceará, a experiência do naturalista João da Silva Feijó, do grupo de Vandelli, é, sem dúvida, a mais bem sucedida. Depois de pisar em 1799 no território cearense, Feijó produz diversos trabalhos, merecendo realce entre eles a “Memória sobre a Capitania do Ceará”, que vem a lume em 1814. A famosa Comissão Científica de Exploração, que realiza de 1859 a 1861 investigações no Ceará, retoma os trabalhos de Feijó.
Em 1863, o senador Pompeu publica o “Ensaio estatístico da Província do Ceará” (3), que sistematiza e dá números ao conhecimento existente – e em boa margem fruto das viagens científicas -, já razoável, porém disperso, da realidade cearense. Só assim a administração pública passa a se equipar melhor para cumprir a sua missão.
Pois bem, no ano seguinte, Antônio Bezerra, já se beneficiando desse trabalho do senador Pompeu, percorre várias regiões ao Norte do Ceará (4) para ali colher dados e informações relativamente a diversos aspectos da Província, como ele mesmo resume:
· Natureza;
· Solo;
· Belezas naturais;
· Potencialidades econômicas;
· Lugares célebres por heroísmo na sustentação do Império ou por crimes dos primeiros povoadores;
· Flora e fauna: confronto interior X litoral;
· Formação geológica;
· Resquícios dos usos e costumes dos habitantes primitivos;
· Fósseis;
· Águas termais.
É dessa forma, com a ajuda de pessoas de erudição, como no presente caso, que, por esse tempo, os governos realizam estudos sobre o território que administram. Isso vai mudar no começo do século XX com a Inspectoria de Obras Contra as Secas – IOCS, que, por intermédio de renomados cientistas em múltiplos ramos do conhecimento, liderados por Arrojado Lisboa, passa a empreender estudos básicos sobre o território nordestino para o desenvolvimento da região.
A primeira etapa: trajeto a vapor de Fortaleza a Camocim
Na primeira etapa da viagem, ruma em direção a Camocim. Na aurora do dia 13, passa em frente à enseada do Pecém. Às 8:00, avista a ponta das Flecheiras, e duas horas depois, o vapor fundeia diante de Mundaú, retomando a rota somente às 14:00. A 40 milhas de Mundaú, caindo a noite, o Cabral larga âncora. À esquerda, a ponta do Tapagé, adiante a costa de Almofala. Pelas 9:00 do dia 14, demanda a barra do Acaraú e, depois, contorna a do Presídio. Demora-se em Acaraú, até meia-noite. Às 5:00 da manhã do dia 15, aparecem “os morros pequenos e escuros do Castelhano”, depois “grandes planícies de areia” e no centro “a sombra grandiosa da Serra da Meruoca, que esmaecia a longa distância". Somente as 11:00, “deixando à esquerda o rio Guriú, o morro das Cabaceiras, o das Moréias, por trás dos quais se erguem os serrotes de Tiaia, Aratanhin e Trapiá, descobrem-se como surgindo das ondas as casinhas brancas de Camocim”. Como faltava água na barra, o Cabral retrocede algumas milhas, descreve uma elipse e, por fim, fundeia no ancoradouro de Camocim, “o melhor da Província”. O dia, limpo: nenhuma nuvem no céu. Dois dias e meio para vencer menos de 200 milhas que separam Fortaleza de Camocim!
A segunda etapa: Litoral Oeste
Em Camocim, pega o trem às 7:00 do dia 26 para Granja, onde desembarca às 9:00. Era a segunda etapa da viagem, que cobria o Litoral Oeste, com ligeira incursão na Região de Sobral. Dia 3 de outubro vai para Massapê. Corta Angica (Martinópole), Riachão (Uruoca) e Pitombeiras (Senador Sá). De Massapê segue a cavalo às 16:00 até Santana do Acaraú, entrando na cidade às 19:00. Na manhã do dia 10, retorna a Massapé, pega, de novo, o trem, vai a Pitombeiras (Senador Sá), visita o Olho d’Água das Pedras, vê a casa de pedra e volta à noite a Massapê. No dia seguinte vai para Riachão (Uruoca), onde chega às 10:00. Aí, às 16:00, monta a cavalo e parte para Coreaú, a 42 km. Pernoita na fazenda Angicos. Pela manhã, está em Coreaú, de onde sai na madrugada do dia 18 em demanda de Viçosa.
A terceira etapa: Ibiapaba
Inicia a terceira etapa, a Ibiapaba, chegando dia 19 em Viçosa, e ali ficando até o dia 25. Às 6:00 desse mesmo dia, vai para Ibiapina, passando por Barrocão (Tianguá), onde chega pela manhã, demorando-se até as 17:00, quando parte. Às 20:00, apeia-se na casa de Anastácio Ferreira de Sousa, onde pernoita. Mal rompe a manhã do dia 26, segue o caminho e às 10:00 alcança o povoado de Furnalhão, onde pernoita. De lá, já na tarde do dia 27, dirige-se ao povoado de Araticum para conhecer a gruta do mesmo nome. Dorme em Araticum, e na manhã do dia 28, muito cedo, mete o pé no estribo, de modo que às 7:00 penetra na Gruta de Ubajara, saindo de lá ao meio-dia. Às 16:00 deixa Araticum, entrando à noite em S. Pedro de Ibiapina (Ibiapina), onde dorme e permanece até a madrugada do dia 31. Pela manhã entra em São Benedito, demora pouco, pois às 12:00 já segue para Guaraciaba do Norte, lá chegando sob o luar. No dia 1º de novembro conclui o serviço, mas só na tarde do dia 4 põe-se a caminho do Ipu, onde entra às 10 da noite. Dia 7, pela madrugada, deixa Ipu.
A quarta etapa: Inhamuns
Às 9:00 do dia 7, pisa em Ipueiras, de onde segue para Crateús às 17:00. Vem a quarta etapa da viagem: os Inhamuns. Às 14:00 do dia 9, entra em Crateús. No dia 13, à noite, vai em direção a Independência onde chega à boca da noite do dia 15, partindo às 17:00 do dia 17 para Tauá. No caminho, na noite do dia 19, arrancha-se em Parambu para estar em Tauá na manhã do dia seguinte. No dia 22, deixa Tauá e dorme à noite em Independência, pegando dia 24, ainda escuro, a rota de Tamboril. E, sempre a cavalo, entra em Tamboril às 10:00 do dia 25, ali ficando até o romper do dia 28, quando ruma para Santa Quitéria.
A quinta etapa: retorno a Fortaleza
Na quinta e última etapa da viagem, prepara o retorno a Fortaleza. A 29 pela manhã entra em Santa Quitéria, no Sertão Central, onde permanece até o dia 22 de dezembro, quando parte de madrugada para Sobral. Chega lá dia 24. No dia 5 de janeiro, às 17:30, segue para Litoral Oeste, visitando, primeiro, Itapagé (dos dias 7 a 13). Depois, no dia 14 pela manhã, segue para Itapipoca, onde pisa às 13:00. De madrugada, pelas 4 horas do dia 29, dá início a uma esticada até Acaraú, passando por Amontada (de meio-dia às 5 da tarde). Sob o crepúsculo do dia 31, põe os pés em Acaraú. Depois de 11 dias, no 11 de fevereiro, ainda escuro, prossegue o itinerário pelo litoral, passando por Almofala (pernoite) e Mundaú (dias 14 a 16), de onde, na manhã do dia 17, segue para Trairi. Ali chega nesse mesmo dia e permanece até às 5 da tarde do dia 23. À noite do dia 24 entra na Região Metropolitana de Fortaleza por São Gonçalo do Amarante, onde pernoita. Dia seguinte, passa por Caucaia, de onde parte às 16:00 para Fortaleza, entrando à boca da noite na Capital. Sem dúvida, uma longa caminhada: mais de 2000 km e 266 dias de viagem, percorrendo-se 21 dos 59 municípios de então.
O registro da viagem
A crônica dessa célebre viagem aparece, primeiro, em folhetins publicados pelo jornal “Constituição”, de Fortaleza, nos anos de 1884 e 1885. Só em 1889 é que toma a forma de livro, com o título “Província do Ceará – Notas de viagem (parte Norte)”. Em 1915, outra edição, outro título: “Notas de viagem ao Norte do Ceará”. Por fim, meio século depois, a terceira edição com o título encurtado: “Notas de viagem”. É nesta que nos baseamos para o presente artigo (5).
No seu relato, Antônio Bezerra procura introduzir o leitor – segundo ele, principalmente o jovem – em temas científicos, a base do progresso. No percurso a vapor de Fortaleza a Camocim, por exemplo, ele cria diálogo com suposto companheiro de viagem para, ao falar sobre a lua e o mar, revelar segredos de astronomia e de oceanografia.
Ao longo do texto, seja para sustentar as explicações seja para dar mais graça à narrativa, ele cita fartamente cientistas, viajantes – em especial, naturalistas -, poetas e escritores.
Com relação a cada cidade que visita, discorre sobre localização, clima, origem, criação, vista geral, ruas, praças, casas, igreja-matriz, câmara, cadeia, cemitério, mercado, produção, população, escola e renda (arrecadação de impostos). O grau de detalhamento dessas informações, como será fácil ver, varia com a maior ou menor permanência de Antônio Bezerra no lugar. Sigamos os pontos que ele mesmo arrola como objeto da viagem.
No caminho entre uma cidade e outra, observa atentamente a natureza. A de Viçosa o deixa extasiado. Acha-a esplendorosa. Em São Benedito, porém, constata que, infelizmente, a rica floresta já se ressente da depredação. E, depois de descrever a vegetação do território cearense, lembra a severidade das leis em outros países, e mesmo do Brasil, para proteger o meio ambiente, ressaltando inclusive algumas boas práticas no Ceará. Entretanto, para ele, não se dá a devida atenção à arboricultura, e o que se faz é pouco para se debelar o mal das secas.
As belezas naturais, Antônio Bezerra as contempla na praia das Barreiras, em Camocim, onde também se deleita com o manguezal cheio de aratus e guaiamuns na barra do Coreaú. Encanta-se com o monte do Céu (que hoje abriga a igreja do Céu), em Viçosa, da mesma forma que com as grutas do Araticum e, particularmente, de Ubajara e a bica do Ipu. Em Tauá, admira o serrote de Quinamuiú; em Itapagé, o Frade de Pedra: e em Trairi (com o desmembramento deste, hoje em Paraipaba) a lagoa das Almacegas.
Quanto à economia, Camocim, cidade portuária, ligada a Sobral desde 1882 pela via férrea, é para ele a localidade que mais progride na Província, e de tal forma que esvazia Granja, que, por sua vez, desperdiça o potencial do rio Coreaú, pois não há, nas margens dele, sequer uma vazante. Da janela do trem, quando passa em Angica (Martinópole), vê gado em todas as direções; mais adiante, porém, no Riachão (Uruoca), terra inaproveitada.
A riqueza mora na Ibiapaba. Em Viçosa, há fartura de cereais, cana de açúcar, fumo e café; há ainda mina de cobre, comércio sortido e riqueza vegetal sem aproveitamento, como o jaborandi, que não é explorado. Ibiapina (cereais, cana de açúcar, café e mandioca), São Benedito (cereais, cana de açúcar, café, mandioca e aguardente de cana) e Guaraciaba do Norte (cana de açúcar, café, mandioca e laranja: e mais: há por explorar salgema, caparrosa e xisto argiloso) são celeiros agrícolas. Ipu, além de cereais, cana de açúcar e o seu beneficiamento (rapadura e aguardente), planta algodão, cria gado e é possuidor, conforme Antônio Bezerra, de grande potencial econômico, com muitos minérios (há ocorrências de ouro, cobre e chumbo, entre outros). Potencial que é inferior apenas ao do Crato, mas depende da ligação ferroviária com Sobral para efetivá-lo.
Ainda sobre a Ibiapaba, Jácome Raja Gabaglia e Basílio Antônio de Siqueira Barbedo, ambos membros da famosa Comissão Científica, se impressionam tão positivamente com São Benedito que adquirem terras quando lá pisam em 1859.
Nos Inhamuns, a riqueza reside principalmente no gado, algodão e cereais. É assim nas 100 fazendas de Independência e nas 184 de Tauá. Em Tamboril, da mesma forma. E, nesses três municípios, é flagrante o estrago que trouxe a seca de 1877-1879. Em Tauá, o naturalista Feijó encontra mina de pedra-ume; há também mina de arsênico e xistos argilosos conhecidos como ardósia.
Em Santa Quitéria, a pecuária e produtos derivados mais o algodão, secundados pelos cereais e a mandioca, constituem as principais atividades econômicas. Em Sobral, é a pecuária em 350 fazendas que lidera a produção primária. Cereais, farinha e rapadura vêm da Meruoca. Há ainda pequenas unidades industriais, como fábricas de rede, de cigarro e sabão, e tipografias. O município desempenha o papel de grande centro comercial que abastece os municípios do Norte da Província e mesmo do Piauí e Maranhão.
Itapagé, assim como Itapipoca, vive o binômio boi-algodão. A serra de Uruburetama, segundo Antônio Bezerra, é pouca aproveitada, visto que nem fruteiras se plantam lá. Já no Acaraú, existe abundância de peixe, crustáceos e moluscos; cria-se gado, fabrica-se rede de tucum e, como cidade portuária, exportam-se cereais, algodão, cera de carnaúba, sal e camurupim, importando-se gêneros do Maranhão e Pernambuco. No Trairi, afora o peixe, que segue para o mercado da Capital, todos os anos saem do município mais de 5.000 fardos de algodão.
Antônio Bezerra penetra no mundo da delinqüência para relembrar crimes famosos que ocorreram em municípios por onde passa. O de Tabatinga, “essa tragédia de ódio e vingança”, em Viçosa, no ano de 1878, é o que lhe desperta maior indignação. Trata-se da chacina de quase toda a família e criados do Major Inácio José Correia, executada por Francisco Gonçalves da Costa, vulgo Juriti, ajudado por filhos, genros e outras pessoas. Foram dezenove os mortos.
O autor dedica muitas páginas à flora e à fauna. Aí faz digressões para esmiuçar os vários aspectos da carnaubeira e das plantas parasitas, carnívoras, aéreas, gigantes, venenosas e curiosas. Do mesmo modo, esquadrinha borboletas, aranhas e abelhas.
A formação geológica do território cearense está também no campo de suas preocupações. Assim, após análise detida, conclui que o solo da Ibiapaba não é de origem primitiva, dominado pelo granito, pórfiro e calcáreo, mas sim secundária, onde abundam fósseis. Em outra parte, disserta sobre o granito.
Quanto ao povo, capta algumas impressões. Por exemplo: vê terrível apatia no granjense; gênio selvagem no viçosense; instinto feroz no ibiapinense; frouxidão de costumes no tauaense; índole pacífica no quiteriense; bairrismo no sobralense; e hospitalidade do itapajaeense.
Antônio Bezerra, em suas pesquisas, encontra: urnas funerárias em Viçosa; fósseis em Guaraciaba do Norte; fêmur de mamífero extinto em Crateús; e ossadas fósseis de animais extintos em Tauá. No caminho de Santa Quitéria para Sobral, na localidade de Pajé, conhece uma fonte de águas termais, que é um dos objetos de exploração na sua viagem.
A cultura é pouca presente nos municípios visitados, daí a economia de registros a respeito. Chama-lhe, no entanto, a atenção, entre outras coisas: a leitura de jornais europeus em Santana do Acaraú; a récita em que se representa “A patente da criação”, de Joaquim Manuel de Macedo, a que ele assiste em Guaraciaba do Norte; os gabinetes de leitura em Guaraciaba do Norte e Sobral, onde constata o gosto pela música. Deplora, no entanto, a falta de jornais locais em quase todos os municípios.
Por onde passa, ouve muitas estórias e, sobretudo, lendas. Uma destas, a do “cão pelado”, que aparece, em certa estação do ano, ladrando e correndo na linha da serra; seria a alma de um morador ambicioso que tomou a terra de um vizinho pobre e quando de sua morte, por castigo, se transformara nesse animal.
O autor depara-se, nas andanças, com tipos interessantes como Antônio Laurindo da Silva, de Granja, um exímio artesão bem versado na literatura de viagens. Outro, Lourenço Correia de Souza Lima, de Almofala, mostra-lhe diversos trabalhos: chapéus de todos os feitios, flores artificiais das mais perfeitas, instrumentos musicais, como um clarinete, estátuas, desenhos gravados em madeira, produtos de fotografia, e assim por diante.
Antônio Bezerra vê e admira as iniciativas do Padre Ibiapina em Santana do Acaraú, do qual foi grande liderança e realizador: a Casa de Caridade e o cemitério, por exemplo, dois dos mais importantes equipamentos públicos, foram ambos empreendimentos dele construídos em tempo recorde, graças ao trabalho coletivo do povo da cidade.
Alguns achados no meio do caminho: em Camocim, uma peça de calibre 18 do forte de Jericoacoara; em Viçosa; uma cadeira de recosto à Luís XIII, que pertenceu aos jesuítas; e em Ibiapina: um tembetá – adorno de pedra que pendia dos lábios dos índios.
Desperta-lhe a curiosidade o uso bem disseminado do cachimbo em Granja assim como o dos tamancos em Viçosa. Já em Tamboril o fenômeno refere-se clima considerado bom para a saúde (é o lugar onde vê pessoas de maior idade “ostentando nos hábitos robustez admirável”; refere-se ainda aos dias mais curtos, “talvez pelo sol que, tendo de vencer a altura da serra das Matas, só depois de seis e meia derrama seus raios na vila, e às cinco e meia mais ou menos fá-los desaparecer por detrás da cordilheira da Ibiapaba”. Em Itapagé, tem notícia da vida em estado selvagem de duas pessoas: Francisca, que mora ao pé da grande pedra do Paraíso, e Severino, nas brenhas da serrota Quixaba. E em Itapipoca, na fazenda Taboca vê uma pedra com o rastro marcado de um pé de homem junto com o de um menino.
Antônio Bezerra é defensor da açudagem, e assim quer ver construídos os reservatórios que o governo já mandara estudar: Quixadá (Cedro), Lavras e Itacomoli (Paula Pessoa, em Granja), o primeiro, por sinal, iniciado em 1884. Do mesmo modo, deseja uma agricultura moderna, com práticas avançadas (mecanizadas) de cultivo e amanho da terra. É crucial ainda para ele a propagação das ciências naturais. E acredita no desenvolvimento do Ceará, se não pelas riquezas minerais, pela indústria. Acha que, “quando a política deixar de ser um fanatismo que transvia até as classes mais ‘iluminadas’ da nação”, que só cuidam dos seus interesses particulares.
Não perdoa o traçado da Estrada de Ferro Camocim-Sobral, concluída em 1882, porque passa por vazios econômicos e por isso é uma mentira escrita em 131 quilômetros de trilhos de ferro que o futuro provará. E, de fato, o último trem parte de Camocim para Sobral em 24 de agosto de 1977.
Antônio Bezerra quer uma sociedade mais aberta, prega a emancipação da mulher e parece acreditar na organização da sociedade, como demonstra ao perorar contra o abandono do povo pelos governos: “Abençoado desprezo este que dá motivo para nos alevantarmos contanto somente com o próprio esforço!”
Bibliografia:
(1) Expressão cunhada pelo historiador José Aurélio Câmara. Ver CORDEIRO, Celeste. O Ceará na segunda metade do século XIX. SOUSA, Simone de (Org.). Uma nova história do Ceará. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2000. p. 135
(2) PINHEIRO, R.; LOPES, Maria Margaret; Aspectos das produções textuais nas viagens científicas. 08/2003, Revista Triplov, Vol. s/n, pp.1-1, Portugal, PORTUGAL, 2003
(3) BRASIL, T. P. de Sousa. Ensaio Estatístico da Província do Ceará. Tomo I. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 1997. O senador Pompeu já havia publicado antes: Memória sobre a estatística e indústria da Província do Ceará. Fortaleza: Tip. Brasileira, 1857; Memória estatística da Província do Ceará sob a sua relação física, política e industrial. Fortaleza: Tip. Brasileira, 1858.
(4) Adotamos neste trabalho as atuais macrorregiões do Estado do Ceará.
(5) BEZERRA, Antônio. Notas de viagem. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1965.
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Cláudio Ferreira Lima – Economista, ex-secretário de Planejamento do Ceará e atualmente coordenador-geral de Planejamento do DNOCS.
quinta-feira, 27 de março de 2008
25 - Paula Nei (1858 - 1897)
O nome de Francisco de Paula Nei (Vila de Aracati, CE, 2/2/1858 – Rio de Janeiro, RJ, 13/10/1897) é mencionado nos meios literários, atualmente, máxime e somente como partícipe da vida boêmia que marcou o Rio de Janeiro da belle époque, e na qual figuraram nomes que acabaram se imortalizando, como é o caso de Aluízio Azevedo e Olavo Bilac, e outros que a Crítica de hoje situa em posição menos elevada – são exemplos Coelho Neto, Guimarães Passos, Luís Murat, e muitos outros.
Figura de enorme popularidade no Rio de Janeiro de sua época, Paula Nei nunca pretendeu se dedicar seriamente à literatura, e muito menos viver dela – passou sua mocidade vivendo do que lhe rendia sua atividade na imprensa diária, bem como dos freqüentes favores que lhe faziam seus colegas e conhecidos. Sua vida apenas conheceu relativa estabilidade após seu casamento, quando o status de pai de família, o emprego público e a saúde cada vez mais fragilizada impediam-lhe de viver no mesmo desregramento de antes.
Não obstante fugir da carreira literária, que considerava avessa ao seu gênio turbulento e ansioso por movimento, Paula Nei, em sua curta existência (faleceu aos 37 anos de idade), acabou deixando à posteridade, além das linhas que anonimamente escreveu nos jornais, também algumas modestas produções poéticas, que, juntamente com alguns discursos de sua lavra (Paula Nei foi brilhante orador, ficando famosa sua capacidade de improvisação, sendo que nos restou algumas transcrições de seus discursos nos jornais da época), compõem seu reduzido acervo literário.
É mais pelo seu valor histórico e bibliográfico que tomamos a iniciativa de reunir, em um só corpo, o que já foi possível reunir-se das poesias escritas por Paula Nei, e que constam das duas biografias que tiveram por objeto a vida do ilustre boêmio: "A Vida Boêmia de Paula Nei", da lavra do minuncioso biógrafo Raimundo de Menezes, que também dedicou-se ao estudo da vida de outros escritores contemporâneos à Nei, como Aluízio Azevedo, Guimarães Passos e Emílio de Menezes; e "No Tempo de Paula Nei", esmerado livro de autoria de Ciro Vieira da Cunha, que com sua obra conquistou o Prêmio Carlos de Laet de 1949, promovido pela Academia Brasileira de Letras, e que também é autor de um curioso opúsculo intitulado "100 Piadas de Paula Ney", que reúne o formidável anedotário do boêmio cearense.
As poesias de Paula Ney, desconsiderados os versos satíricos que ele arquitetava espontaneamente em meio as suas palestras, e que raramente eram registradas em papel, não passam de meia dúzia, e não primam pelo estilo. Nem dele seria razoável esperar o contrário, pois nos parece que seus versos foram esboçados, in totum, de improviso, à mesa das confeitarias em que ele tomava assento para escrever suas reportagens e descobrir novas matérias para elas. Percebe-se a influência do parnasianismo predominante no momento: o uso do soneto como molde de manifestação poética, algumas figuras de linhagem, e elementos outros que não merecem ser mencionados nesta pequena resenha.
Não obstante, sua linguagem destoa do formalismo e do rigor da Escola de Bilac – a singeleza das figuras que Paula Nei invoca, e a simplicidade dos termos e das construções de que se utiliza reportam uma influência maior do Romantismo – em seus versos prevalece a emotividade e os exageros românticos, em detrimento da emoção contida e contemplativa dos parnasianos.
Quanto à qualidade dos poemas, em seu conteúdo, não se pode tirar nenhum juízo que olvide o fato de que, se Paula Nei foi poeta em algumas ocasiões, foi-o de improviso, sem maiores pretensões e veleidades. Isso talvez escuse as deficiências que hora ou outra se encontram pelos seus parcos versos, como o emprego de figuras poéticas já exaustivamente conhecidas, o uso excessivo de vocativos, etc. Não obstante, inegável que seus versos emanam certa beleza, muito dela devida à simplicidade e espontaneidade que neles transparecem. Exemplo maior disso é o soneto "A Fortaleza", que ganhou considerável notoriedade em sua época, a ponto de que a capital cearense fosse, como ainda é, batizada de "loira desposada do sol", feliz inspiração de Paula Nei em uma faceta pouco conhecida de sua vida – a de Poeta.
Por fim, convém notar, antes que se julgue que os poemas a seguir pertencem tão-somente à poeira do Passado, que, curiosamente, até mesmo na internet é possível encontrar os versos de Paula Nei, embora algumas transcrições pequem pelo descuido, sendo que de uma pequena análise que fizemos na web, verificamos diversas imprecisões quanto à grafia das palavras, quanto à acentuação, ocorrendo até mesmo omissões e inversões de termos, desconfigurando alguns versos.
Essas deficiências não obscurecem a importância, porém, que há no ato de se dar publicidade aos versos de uma figura que anda esquecida dos estudos literário que têm enfoque nos autores do final do século XIX. E é essa publicidade que, se os versos do boêmio cearense não possuíram no papel, possuem agora, na rede mundial de computadores, acessível para milhões de brasileiros que presentemente podem conhecer, ainda que em pequena dose, um pouco dessa figura literária tão cativante, como é a de Paula Nei.
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A ABOLIÇÃO
A justiça de um povo generoso,
Pesando sobre a negra escravidão,
Esmagou-a de um modo glorioso,
Sufocando-a com a lei da Abolição.
Esse passado tétrico, horroroso,
Da mais nefanda e torpe instituição,
Rolou no chão, no abismo pavoroso,
Assombrado com a luz da Redenção.
Não mais dos homens os fatais horrores,
Não mais o vil zumbir das vergastadas,
Salpicando de sangue o chão e as flores.
Não mais escravos pelas esplanadas!
São todos livres! Não há mais senhores!
Foi-se a noite: só temos alvoradas!
Segundo Raimundo de Menezes, o presente soneto foi escrito nos dias que se sucederam à Abolição, em meio às comemorações que tomavam as ruas centrais do Rio de Janeiro. Diz o biógrafo que Paula Nei escreveu-o de improviso, "entre dois cálices de vermouth, em meio ao ruidar da multidão na rua".
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SEM TÍTULO
Mestre Meira mira o Moura
E o mestre Moura mira o Meira
Na marinha e na salmoura,
Mestre Meira mira o Moura,
Enquanto grita a lavoura,
Saltando doida e brejeira,
Mestre Meira mira o Moura
E o mestre Moura mira o Meira!
Jogo de palavras composto por Paula Nei, sobre desentendimentos havidos entre dois Ministros do Império: João Florentino Meira de Vasconcelos e João Pereira Moura, este ocupando a pasta da Marinha. Segundo R. de M., Nei, na ocasião trabalhando como repórter parlamentar, compôs esses versos e distribui-os aos parlamentares, na Câmara dos Deputados.
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SEM TÍTULO
Aquele piano, que ontem soluçava,
Triste e dolente, a doce cavatina
Dos teus olhos, oh! lânguida bonina,
Parecia uma órfã que chorava...
Parecia uma nuvem que espalhava
A branda luz da estrela matutina;
Parecia uma pomba que arrulhava
Na orla verde-negra da campina.
E eu chorava também... Tinha em meu peito
A dor da ausência, o perenal martírio
Dum grande amor passado e já desfeito!
Então, pedia às brisas que corriam,
Puras e leves, como o odor do lírio,
Para falar-te; e as brisas me fugiam...
Raimundo de Menezes, n'"A Vida Boêmia de Paula Nei", intitula o soneto "O Piano", afirmando que ele foi dedicado a D. Júlia Lima de Freitas Coutinho, com a qual o boêmio se casou já trintagenário. Da união matrimonial nasceram três filhos, sendo que o primogênito faleceu ainda recém-nascido, após intervenção cirúrgica. Já Ciro Vieira da Cunha possui outra versão para o poema. Segundo o biógrafo, o poema nasceu da parceria de Paula Nei e Lins de Albuquerque, poeta parnasiano morto precocemente e que pertencia à roda boêmia de Nei. O soneto acima, sem título, teria sido, segundo Vieira da Cunha, publicado n'"O Mequetrefe", sob as inicias P. N. e L. A., após ter sido redigido em uma das mesas da Confeitaria Paschoal, no Rio. O biógrafo explica que foi o olvido que baixou sobre a figura de Lins e Albuquerque que fez com que atribuíssem sua autoria apenas ao nome de Paula Nei. Efetivamente, a versão de Ciro Vieira da Cunha parece-nos mais fidedigna, e por isso optamos por não intitular o soneto do modo como fez Raimundo de Menezes.
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A TRANÇA
Esta santa relíquia imaculada,
De teu saudoso amor, esta lembrança,
Da vida que fugiu, arrebatada,
Ligeira, como um sonho de criança,
Nos sonos de uma noite de bonança...
- Eu guardo, junto a mim, oh! noiva amada,
Enquanto minha vista não se cansa
De vê-la e adorá-la, extasiada!
Com o fio desta trança, tão escura,
Tão negra, sim - que até minha amargura
Lhe invejaria a cor - e tão macia...
Quais pétalas de rosa, eu teço, à noite,
Da viração sentindo o brando açoite,
- O epitáfio de minha campa fria!...
Único poema de Paula Nei de que se tem notícia que foi publicado na imprensa, à época da composição. Foi este soneto foi estampado no periódico "A Semana", de 16 de Janeiro de 1886.
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ADORAÇÃO
Tu és minha, afinal! Enfim, te vejo
Sobre os meus braços, lânguida, prostrada,
Enquanto em tua face, descorada,
Os lábios colo e sorvo-te num beijo.
Vibra em minh'alma o lúbrico desejo,
De assim gozar-te a sós, abandonada,
De sentir o que sentes, minha amada,
De escutar-te do peito o doce arpejo!
Quando, entretanto, eu sinto que teu seio
Palpita delirante em doido anseio,
Como a luz que do sol à terra emana,
Eu digo dentro em mim: se eu te manchara,
Se eu te manchara, Flor, ai! não te amara,
Oh! branca espuma da beleza humana!
Sobre este soneto escreveu Nei da Silva: "neste encantador quatorzeto vê-se bem delineada toda a idéia: a posse, o desejo, a piedade, e, por fim, a revolta íntima de um ato pouco digno de um coração que coloca o ideal, sempre intangível e puro, longe, muito longe, das terrenas misérias do mundo. Nele o espírito pode mais do que a matéria vil, e, assim, a doce e a inefável visão dos seus sonhares, ficou-lhe sendo sempre: 'a branca espuma da beleza humana'" – O entusiasmo quiçá exagerado do escritor se escusa pelo fato de seu parentesco com Paula Nei...
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DE VIAGEM
Voa minh'alma, voa pelos ares,
Como o trapo de nuvem flutuante,
Vai perdida, sozinha e soluçante,
Distende as asas tuas sobre os mares!
Leva contigo os lânguidos cismares,
Que um dia acalentaste, delirante,
Como acalenta o vento roçagante,
A copa verde-negra dos palmares.
Atira tudo isso aos pés de Deus,
Lá onde brilha a luz e estão os céus
E virgens mil c'roadas de verbena.
Isto que já brilhou como uma estrela,
_ Adeus! dirás, só pertenceu a ela,
Corpo de um anjo, coração de hiena!
Este poema – conta-nos R. de M. – foi escrito a bordo do navio que levou Nei, em sua mocidade, do Rio de Janeiro para Salvador, onde passou tumultuosa e alegre temporada. O motivo da viagem, a filha de um comerciante da Corte, pela qual o jovem boêmio se apaixonara, e que lhe serviu de inspiração para o soneto transcrito.
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A FORTALEZA
Ao longe, em brancas praias embalada
Pelas ondas azuis dos verdes mares,
A Fortaleza, a loira desposada
Do sol, dormita à sombra dos palmares.
Loura de sol e branca de luares,
Como uma hóstia de luz cristalizada,
Entre verbenas e jardins pousada
Na brancura de místicos altares.
Lá canta em cada ramo um passarinho,
Há pipilos de amor em cada ninho,
Na solidão dos verdes matagais...
É minha terra! a terra de Iracema,
O decantado e esplêndido poema
De alegria e beleza universais!
Quando se pensa sobre a fama atual de Paula Nei, constata-se que, seguramente, este soneto é seu legado mais vivo, na medida em que a beleza dos versos de "A Fortaleza" rendeu ao poema o mérito de figurar em diversas coletâneas de poesias, sendo o soneto consideravelmente conhecido pelo público até hoje, principalmente em Fortaleza, que por muitos ainda é chamada de – A loira desposa do sol".
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BIOGRAFIA
- A Vida Boêmia de Paula Nei. Raimundo de Menezes. Edições de Ouro. Rio de Janeiro. MCMLXVIII
- No Tempo de Paula Nei. Ciro Vieira da Cunha. Edições Saraiva. São Paulo. 1950
- 100 Piadas de Paula Nei. Ciro Vieira da Cunha. Edições Galo Branco. Rio de Janeiro. 2000
todos os direitos reservados © Bruno Scomparin Pereira - 2005
B S Pereira
São Paulo/SP - Brasil, Escritor Amador
http://recantodasletras.uol.com.br/visualizar.php?idt=44129
quarta-feira, 26 de março de 2008
23 Gonçalo Ferreira da Silva
Poeta, contista, ensaista. Nasceu em Ipu, Ceará, no dia 20 de dezembro de 1937. Autor fecundo e de produção densa, principalmente no campo de literatura de cordel, área que mais cultiva e que mais ama.
Poeta intuitivo, de técnica refinada, chega a ser primoroso em algumas estrofes. É, porém, a abrangência dos temas que aborda que o situa entre os principais autores nacionais, tendo produzido diversos títulos com a temática de ciência e política.
Quando participa de congressos e festivais é comum vê-lo contando histórias em versos rimados e de improviso. Hoje vive no Rio de Janeiro e é presidente da ABLC.
http://www.ablc.com.br/noticias/noticias.htm
22- A arte do repente invade a sala de aula
Data: 24/03/2008
Veículo: CORREIO BRAZILIENSE - DF
Editoria: GABARITO
Assunto principal: ENSINO MÉDIO
Disponível no site
Acessado em 26/03/08 por Airton Soares
O projeto Cantoria na escola e Boi na rua é apresentado a alunos da rede pública do Distrito Federal
Priscilla Borges
Da equipe do Correio
Os cantadores Zé do Cerrado, Donzilio Luiz, Chico de Assis e Zé Lima, apresentaram-se no centro de ensino médio EIT de Taguatinga: aula de cultura popular nordestina
Os alunos do Centro de Ensino Médio EIT, de Taguatinga, passaram por uma experiência peculiar na última quarta-feira. Após o intervalo, na quadra onde costumam jogar vôlei, os estudantes encontraram microfones e caixas de som. Perto deles, quatro homens munidos de violas - um deles com chapéu de cangaceiro - aguardavam. Quando todos estavam fora da sala de aula, foi dado o aviso: os estudantes assistiriam a uma apresentação de cantadores repentistas.
Chico de Assis, Zé do Cerrado, Zé de Lima e Donzilio Luiz mostraram aos jovens do EIT como se faz um repente. Tradicionais na cultura nordestina, essas canções são feitas de improviso. São rimadas e têm ritmo marcado por versos que mantêm o mesmo número de estrofes. Em geral, os repentes são cantados em duplas. Cada violeiro responde aos "desafios" feitos pelo outro com criatividade e rapidez na criação dos versos.
A apresentação do grupo faz parte do projeto Cantoria na escola, criado pela Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do Distrito Federal e Entorno (Acrespo). Chico de Assis, que é o presidente da associação, conta que a iniciativa recebeu recursos do Ministério da Cultura. Os cantadores que se apresentam nos colégios recebem remuneração por cada espetáculo. "São profissionais que precisam sobreviver do que fazem", justifica Chico.
A proposta do Cantoria na escola e boi na rua é valorizar o repente, a literatura de cordel e a poesia popular. Mostrar aos jovens um mundo, muitas vezes, completamente desconhecidos por eles. "A escola é um lugar de aprendizado. Cultura faz parte disso. Espero que os jovens percebam que a literatura de cordel é uma cultura genuinamente brasileira e não percam essas raízes", comenta Chico.
Até o dia 4 de abril, as apresentações dos cantadores repentistas serão realizadas em 17 escolas públicas do Distrito Federal. Ao todo, os repentistas farão 39 shows nas escolas. Chico procurou os colégios para propor as parcerias no ano passado. Alguns já mostravam a literatura de cordel aos alunos e aprovaram a idéia de cara. Outros enxergaram o projeto como uma oportunidade para apresentar o tema aos estudantes.
Brilho no olhar
Antes de começar o espetáculo, Chico explica aos alunos o que é o projeto. Fala sobre a história do cordel. Instiga os adolescentes a prestar bastante atenção ao que virá depois. As músicas rimadas e improvisadas brincam com os espectadores. Os repentistas comentam da saia curta de uma jovem, das risadas da outra. Pedem para os estudantes deixarem o rap e o funk de lado - um pouquinho, pelo menos! - para conhecer o som das violas.
Os olhos dos estudantes brilham, admirados. Muitos se impressionam com a agilidade de raciocínio dos repentistas. Outros acham graça das rimas. Entre uma improvisação e outra, Zé do Cerrado canta uma música popular. Em seguida, Chico recita um texto de cordel. Os alunos batem palmas. Aos olhares curiosos dos jovens, que parecem perguntar de onde surge tanta criatividade, Donzilio responde: "É preciso ser poeta, treinar muito e ter conhecimento. A gente tem que ser capaz de fazer repentes sobre qualquer tema. Aí, tem que ficar bem informado", ensina.
Thamiris Santos, 14, Wanes Christine Santos, 16, Larisse de Andrade, 14, Thaísse Steffany Marques, 17, Pollyana da Silva, 16, Jonathan Faustino, 16, Silvana Pereira, 16, e Fernando de Sousa, 16, elogiaram o evento. "Os alunos reclamam que a escola não promove eventos culturais. Foi ótimo", analisa Larisse. Wanes acredita que o contato com os repentistas motivará os estudantes a pesquisarem mais sobre a cultura nordestina e conhecer novos sons.
Para os repentistas, a experiência também é novidade. "Nunca tinha participado de cantorias em escolas antes, mas achei maravilhoso", afirma Zé do Cerrado. Zé Lima diz que é uma oportunidade de passar o conhecimento que possui sobre a história e a luta do nordestino. "É gratificante", resume.
Em algumas escolas, Chico de Assis e Donzilio, também coordenador do projeto, participarão de debates com os adolescentes sobre a literatura de cordel e o repente. Os artistas destacam a importância de cordelistas, poetas e cantadores para a história da cultura popular nordestina. Em breve, Chico retomará outra iniciativa: oficinas de cordel em colégios públicos. Ainda neste semestre, ele tem encontros marcados com professores e alunos de Ceilândia, Samambaia e Riacho Fundo.
Saiba mais
Os repentistas improvisam canções rimadas e engraçadas sobre vários temas ao som de violas. Os violeiros criam desafios, marcados pela criatividade e pela rapidez. Durante as cantorias, é impossível não falar de outro marco da cultura nordestina: a literatura de cordel. A poesia popular, feita em rimas, era contada de boca em boca em Portugal e na Espanha. Chegou com os colonizadores ao Brasil e encontrou eco no Nordeste. Muitos "causos" de cordel são cantados por violeiros. Conheça alguns dos mais importantes cordelistas, repentistas e poetas da literatura popular.
Cego Aderaldo
Aderaldo Ferreira de Araújo nasceu na cidade de Crato, no Ceará. Tinha boa voz e foi importante cantador. Era conhecido pelos versos políticos e pela participação em cantorias que marcaram época. Viveu em Quixadá e morreu em Fortaleza, em 1967, com quase 90 anos de idade.
Gonçalo Ferreira da Silva
É poeta, contista e ensaísta. Cearense da cidade de Ipu, cria muito cordéis que falem de ciência e política.Gosta de contar histórias rimadas e improvisadas. Com 71 anos de idade, mantém-se ativo. Vive no Rio de Janeiro e é presidente da Associação Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).
João Martins de Athayde
Grande cordelista, nasceu em 1880 no município de Ingá, na Paraíba. Trabalhou como mascate, seringueiro e estudou enfermagem. Em 1921, comprou o projeto editorial de Leandro Gomes de Barros e tornou-se editor de literatura de cordel. Escreveu poemas de humor e pelejas bastante conhecidos, como a de "Serrador e Carneiro".
João Melchíades Ferreira
O paraibano João Melchíades Ferreira da Silva nasceu em Bananeiras, em 1869. Foi sargento do exército e combateu na Guerra de Canudos. Foi autor do primeiro folheto sobre Antônio Conselheiro, mas escreveu mais de 20 histórias e foi também um violeiro. Faleceu em João Pessoa (PB), em 1933.
José Pacheco
Para alguns, José Pacheco é alagoano. Para outros, pernambucano. Foi um grande escritor, especialmente de gracejos. Mas não abandonou outros gêneros de textos. A ele, é atribuída a autoria de A Chegada de Lampião no Inferno.
Leandro Gomes de Barros
É reconhecido como o maior poeta da literatura de cordel. Para alguns, foi mesmo um gênio. Paraibano, Leandro Gomes de Barros foi pioneiro na publicação de folhetos rimados. É autor de obra vasta e foi importante editor, porque divulgou a literatura a várias regiões do país. Morreu no Recife, em 1918.
Manoel Camilo dos Santos
Nasceu em Guariroba, na Paraíba, em 1905. Foi cantador na década de 1930. Depois dedicou-se a escrever e editar folhetos. Repentista e violeiro, é autor de mais de 80 folhetos. Mora em Campina Grande (PB) e é um dos fundadores da ABLC.
Patativa do Assaré
Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré, é um poeta popular. Nasceu em 1909, perto da cidade de Assaré (CE). Com 16 anos de idade, comprou uma viola e começou a cantar de improviso. Ainda se mantém ativo com as cantorias e repentes.
Severino Milanês
Há quem não acredite que ele tenha existido. Mas, segundo a ABLC, Severino Milanês da Silva nasceu em Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Foi repentista e poeta. Nos textos atribuídos a ele, os temas mais freqüentes são as discussões, as pelejas e as histórias de amor. Faleceu em 1956.
Silvino Pirauá
O pernambucano Silvino Pirauá de Lima nasceu em Patos, em 1848, e faleceu em 1923. Foi cantador e poeta popular. É considerado um dos maiores nomes da poesia popular nordestina. Bom improvisador, foi um dos primeiros a usar a sextilha.
Heloneida Studart - Biografia
Semira Adler Vainsencher
semiraadler@gmail.com
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Disponível http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=305&textCode=6754&date=currentDate
Acessado em 26/03/2008
Heloneida Studart nasceu em Fortaleza, Estado do Ceará, no dia 9 de abril de 1932. Seus pais se chamavam Edite Studart e Vicente Soares. Pelo lado materno, descendia do historiador Barão de Studart e, pelo paterno, do líder abolicionista Antonio Bezerra de Menezes, um geógrafo famoso. Aos nove anos, estudando num colégio de freiras - o Imaculada Conceição de Fortaleza – ela escreveria uma história infantil intitulada A Menina Que fugiu do Frio. A partir daí, passou a dizer que seria uma escritora no futuro.
Com dezesseis anos, Heloneida foi morar no Rio de Janeiro, estreando como colunista no jornal O Nordeste, onde suas opiniões já causavam polêmicas na época. De Fortaleza, ela trouxe os originais de seu romance A primeira pedra, que seria publicado em São Paulo, em 1953, pela Editora Saraiva. Quatro anos depois, viria o romance Dize-me o teu nome, que foi premiado pela Academia Brasileira de Letras e laureado com o prêmio Orlando Dantas, do jornal Diário de Notícias. Em 1960, ela foi trabalhar no jornal Correio da Manhã e, por várias décadas, atuou no jornalismo, apesar de ter se formado em Ciências Sociais pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Posteriormente, ela trabalhou dez anos como redatora da revista Manchete.
Heloneida envolveu-se com as lutas populares e foi eleita presidente do Sindicato das Entidades Culturais (Senambra), em 1966. No entanto, por fazer oposição à ditadura militar, foi destituída do cargo e presa em março de 1969. Do cárcere, no presídio São Judas Tadeu, brotaram os roteiros de seus futuros trabalhos Quero meu filho e Não roubarás. Em meio àquele ambiente de repressão, ninguém imaginaria que, em anos vindouros, aqueles trabalhos seriam exibidos com sucesso pela TV Globo.
Com o fim do regime militar, surgiriam três novos romances, chamados pela própria autora de Trilogia da tortura: O pardal é um pássaro azul (que já foi traduzido em quatro idiomas); O estandarte da agonia (inspirado na vida de sua amiga Zuzu Angel); e O torturador em romaria.
A jornalista escreveu sobre a condição feminina, a convite da Editora Vozes, publicando os ensaios Mulher objeto de cama e mesa, obra que vendeu 280 mil exemplares e se transformou em uma espécie de bíblia do feminismo brasileiro; e Mulher, a quem pertence seu corpo? Esses dois trabalhos estão, respectivamente, na 27ª. e 6ª. edições.
Em 1978, com 60 mil votos, Heloneida seria eleita deputada estadual do Rio de Janeiro, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Ela reelegeu-se em 1982, novamente pelo PMDB, sendo inclusive vice-líder da bancada de 1979 a 1988, ano em que deixou o Partido, e participou da fundação do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). No ano seguinte, saiu do PSDB e entrou no Partido dos Trabalhadores (PT).
Entre outros, Heloneida exerceu/exerce vários cargos importantes: foi vice-presidente da Comissão Parlamentar de Controle do Meio-Ambiente, de 1979 a 1980; presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) de 1981 a 1982; integrou as comissões especiais, relativas aos direitos da mulher, no que diz respeito aos direitos reprodutivos; participou da apuração das condições de atendimento da população nessa área; em seu terceiro mandato como deputada, atuou como vice-líder da bancada do PT; e, de 1995 a 1999, presidiu uma comissão especial destinada a apurar as formas de arrecadação e distribuição dos direitos autorais no Rio de Janeiro. Além disso, fundou duas instituições importantes, com várias companheiras feministas: o Centro da Mulher Brasileira, a primeira entidade feminista do País; e o Centro Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim); e é presidente da Comissão Permanente de Defesa dos Direitos Humanos.
Na Assembléia, em meio às suas tarefas legislativas, a deputada-escritora implantou ainda o projeto cultural Libertas quae sera tamen, contendo três peças que explicavam algumas das lutas de libertação do povo brasileiro: Tiradentes, o Zé de Vila Rica; Bárbara do Crato e Frei Caneca. O seu público alvo era constituído por alunos de escolas públicas, e os intérpretes, em sua maioria, eram adolescentes que moravam em favelas. Aquelas peças, que foram dirigidas por Wilma Dulcetti, ficaram quatro anos em cartaz. Com a mudança da presidência da Assembléia, porém, o projeto foi suspenso.
Ela também foi autora da peça Homem Não Entra, que ficou em cartaz durante cinco anos, e representou um marco do teatro brasileiro nos anos 1970, defendendo bandeiras relativas ao avanço e à promoção das mulheres.
A jornalista publicou também outras obras relevantes: A Culpa; China, o Nordeste que deu certo; A deusa do rádio e outros deuses; e Deus não paga em dólar. Esta última foi considerada como um marco da literatura brasileira.
Heloneida Studart é mãe de seis filhos (todos do sexo masculino), seu temperamento é alegre, e possui hábitos bem simples. Com vários mandatos de deputada estadual, ela aprovou muitas leis que vieram a beneficiar mulheres e trabalhadores, estando sempre em defesa da democracia e da justiça social. A profissional polivalente também ficou conhecida por sua participação nos debates da TV (como o "Sem Censura" da TV Educativa, onde atuou durante dois anos), nos programas de rádio e na publicação de artigos nos principais jornais cariocas.
No livro Mulheres brasileiras, da Editora Record, Heloneida Studart foi indicada como uma das 100 brasileiras mais importantes do século XX. Mais recentemente, a Fundação de Mulheres Suíças escolheu 1.000 mulheres para concorrerem ao prêmio Nobel da Paz. Dentre elas, 52 eram brasileiras; e a jornalista cearense estava entre elas.
Recife, 4 de julho de 2006.
FONTES CONSULTADAS:
HELONEIDA Studart. Disponível em:
HELONEIDA Studart. Disponível em:
HELONEIDA Studart. Disponível em:
HELONEIDA Studart. Disponível em:
LEI de Heloneida Studart garante cirurgia de mama na rede pública. Disponível em:
SCHUMAHER, Erico Vital Brazil (Org.). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
VIVER sem violência é direito da mulher. Disponível em:
(Texto atualizado em 22 de novembro de 2007)
21 Verdes Mares
sexta-feira, 21 de março de 2008
20 - Panorama do conto cearense – Parte Final
Por Nilto Maciel
8 – OUTROS NOVOS CONTISTAS
Seguem-se informações sucintas relativas a contistas apresentados nos últimos anos do século XX e começos do XXI em coletâneas, quase sempre oriundas de concursos literários, em periódicos e na Internet.
Adriano Espínola (Fortaleza, 1952) é poeta e ensaísta dos mais conceituados no Brasil, com alguns livros publicados por grandes editoras. Tem também escrito contos. Professor de Literatura Brasileira.
Aetamira Lúcia Ribeiro: 3º. lugar no I Prêmio Cidade de Fortaleza, com "A Casa".
Ajuricaba Freitas Gaspar (Teresina, Pi, 1943) teve publicado "A Transação ou O Coronel, Sua Mula e o Cigano" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Alda Maria Cordeiro de Santana (Nova Olinda, 1961). Mostrou os primeiros seis contos no livro II Prêmio Ceará de Literatura. São eles: "Filhos da Selva", "Extraterreno", "Conversa pra Boi Dormir", "Fora da Lei", "Cem Cruzeiro ou Cem Cruzado não vale um Vintém Furado" e "Homem-Bicho ou Bicho-Homem".
Alexandre Perazo Nunes de Carvalho: 7º com "O Almoço de Confraternização", no IV FUC, publicado em coletânea.
Álvaro Fernando de Araújo Filho: 6º. no II FUC, com "...e o sonho fez-se verbo".
Ângela Maria Bessa Linhares, professora universitária, dramaturga, com obra publicada, tem "A Ninguém" na coletânea 3º. Prêmio Ideal Clube de Literatura.
Antonio Carlos Klein: 8º. no II FUC, com "No Velório do Vidal".
Antonio Vanderley Moreira: 6º. no IV FUC, em 1996, com "Sem Verde e Sem Vida", publicado em coletânea.
Carla Amalia Lourenço tem contos em jornais e premiados. 2º. no I Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, com "Bicha não...". 6º. com "Combinações", na quinta versão do mesmo concurso, de 1995. Ambos publicados nas coletâneas que reuniram os contos e poemas premiados.
Carlos Alexandre Bastos Gonçalves (Belford Roxo, RJ, 1979) está presente à coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Residencial Vila Lobos".
Carlos Costa obteve menção honrosa (ou 4.º lugar) no III Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1992, com "Como no Vietnam".
Cecília Oliveira do Nascimento tem "O Natal de Calu" na coletânea 3º. Prêmio Ideal Clube de Literatura.
Celina Côrte Pinheiro, paulista de nascimento, mora e clinica em Fortaleza, onde também escreve contos e os tem estampado em jornais e nas coletâneas da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.
Cellina Muniz participa de Antologia Literária (Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral), com "Ambrósio".
César Barros Leal (1950) tomou parte em antologias, como 10 Contistas Cearenses. A opinião de Nascimento, a respeito do conto incluído nesse livro, é de que o contista "conduz a linha narrativa de ‘Meu Grande Amigo’ numa linguagem reminiscente mais objetiva, centrada num episódio de sua vida. Entretanto, somente o narrador emerge dotado das funções de lembrar e reproduzir imagens e sensações".
Clodomiro Paulino Gomes Filho: 2º. no I e no IV FUC, com "O Rubi" e "O Cardápio", respectivamente.
Cristiano Gonçalves Ribeiro está presente na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Grito na Tempestade".
Daniel Magérbio Almino de Lucena (Crato, Ce, 1978): "Elipse", na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Dimas Macedo, natural de Lavras da Mangabeira, tem se dedicado à poesia e à crítica literária, com êxito. No campo da prosa de ficção já apresentou alguns textos, como "Escritos do Dilúvio" e "Poética da Esfinge", incluídos no volume de artigos e ensaios Crítica Dispersa. Tem inéditas diversas histórias curtas e, em preparo, um romance.
Daniel Magérbio Almino de Lucena (Crato, Ce, 1978) participou com "A Força no Sentido Horário" da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Ecila Moreira de Meneses: 7º. no I FUC, com "Odisséia de Cada Dia".
Edilson Brasil Júnior (ou Edilson Brasil de Souza) tem "As Mãos na Face" na coletânea 3º. Prêmio Ideal Clube de Literatura e "Bodas de Nunca Mais" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Emerson Freitas Braga participa do terceiro volume do Ideal, com "A Árvore do Bem e do Mal".
Erick Leite Maia tem "A Menina que Falava Alemão" na Antologia Literária (1º. Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral). No terceiro livro do mesmo prêmio, de 2000, compareceu com "Einstein e o luar do sertão".
Fabiano dos Santos: 6º. no I FUC, com "UTI". Tem livros para o público infantil.
Fayga Silveira Bedê: 8º. no I FUC, com "Daniel à Porta do Céu".
Fernando Marcelo Probo: 5º. com "Câncer", no I FUC, da UFC, 1993.
Francisco José Brasil participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Minha Louca Estória com Djaíldo e Outras Coisas que nem Lembro para Contar".
Francisco Octávio Marcondes Rudje (Rio de Janeiro, RJ, 1944), tradutor, participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Noturno Urbano".
Francisco Paulo de Souza: "Sou temperadental", 1º. no I Prêmio Literário Cidade de Fortaleza. Tem contos em jornais.
Germano Silveira, formado em Letras, tem obras publicados, entre elas um romance premiado. Participa da terceira coletânea do Ideal, com "Claustrofobia".
Gislene Maia de Macedo: 9º. no II FUC, com "O Homem velado".
Iclemar Nunes: 3º. com "Tiãozinho Bananeira e as Diretas Já", no I Prêmio Cidade de Fortaleza e publicado na coletânea do mesmo nome.
Igor Leite Mendonça Mina (Fortaleza, 1983) apresentou "Conto de um Rei sem Trono" e "Charles Patrick e a Doutrina do Pensamento Imanifesto" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Irenísia Torres de Oliveira: 3º. no I FUC, com "Noturno".
Ivan Moreira de Castro Alves (Fortaleza, 1926) está incluído na antologia O Talento Cearense em Contos, com "Maré Baixa ou Contos da Lua Vaga". Tem diversos livros publicados (memórias, crônicas).
Jádson Barros Neves (Miranorte, To, 1966) publicou os livros O Homem, o Pássaro, o Rio e Entre Eles, os Escorpiões. Tem contos premiados, como "Paisagem para Isabel", publicado na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Jean Garcia Lima (Fortaleza, 1977) está incluído na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com a narrativa "O Profeta da Pedreira".
Jeovah Lucas da Silva: 10º. no IV FUC, com "Agressões", publicado em coletânea.
Jesus Rocha (Maranguape) tem livros para o público infanto-juvenil, além de contos esparsos em periódicos. Da antologia O Talento Cearense em Contos é integrante com "Cenas de Futebol e de Aviação".
Joan Edessom de Oliveira está presente na segunda coletânea do Prêmio Domingos Olímpio, com "Os Afogados". Na terceira obteve o primeiro lugar, com "Os Filhos de Aprígio Martins".
João Dionísio Viana Neto também participa do mesmo livro, com "Recordações".
José Augusto do Nascimento Filho: 3º. no II FUC, com "Revolução", e em 8º. no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003, com "Traição".
José Augusto Nóbrega Lessa teve "O Acompanhante do Outono" classificado em 1º. lugar no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, em 2003.
José Carlos do Nascimento obteve, com "Destino, Vida e Morte do Homem-Álcool", o 9º. no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003.
José Célio Freire, professor universitário, participa da terceira coletânea do Ideal, com "Refém@imaginet.com.br".
José Cornélio Ribeiro Neto compareceu à terceira antologia do Prêmio Domingos Olímpio, com "O Cabral".
José Flamarion Pelúcio Silva (Pombal, PB, 1942) teve classificados e publicados "Esse meu pai..." e "Lua Negra" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
José Mesquita Xavier Ferreira, com "A Flor", em 5.º no XII Prêmio Cidade de Fortaleza, 2003.
Juliana Antunes de Menezes participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Amigo Desconhecido".
Júlio Lira é sociólogo atuante na área dos direitos das crianças e dos adolescentes. Publicou A Historia Inacabada de Maria Rapunzel (Edições Demócrito Rocha). "Por que a humanidade precisa suicidar-se" foi contemplado com o Prêmio Domingos Olímpio e publicado em Literatura n.º 24. "Nove de Copas" obteve o 2.º lugar no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003. Prepara Pequenas e Quase Inocentes Histórias de Horror.
Lígia Leal Heck (Rio de Janeiro, RJ, 1948) aparece na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Uma Versão Versada".
Lourival Mourão Veras, poeta e contista, teve "A Lua de Felícia" colocado em 5.º no V Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1995, e apresentado na coletânea que reuniu os contos e poemas premiados.
Lucelindo Dias Ferreira Júnior (Cacoal, RO, 1984) participa da coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Sentir Muito".
Luciano Lira de Macedo (Crato) escreve contos e crônicas, que divulga em jornais, revistas e coletâneas, especialmente as da Sobrames, médico que é.
Lucineide Souto tem publicado contos em jornais e revistas, como "A Burra de Padre", em Literatura nº. 24. Tem no prelo seu primeiro volume de histórias curtas, Chame os Meninos.
Luís Marcus (ou Marcos) da Silva (Fortaleza, 1964) editou "Noite Empalhada", no Almanaque de Contos Cearenses. Teve "Ociosidade" classificado (e publicado em coletânea) em 4º. lugar no I Prêmio Literário Cidade de Fortaleza. Estampou contos em jornais.
Luiz Antonio Simonetti: em 9º. com "O Aprendiz", no I FUC.
Marcela Magalhães de Paula (Rio Claro, SP, 1983) tem "Essência" na coletânea VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Marcela Rosseti Pacheco (Rio de Janeiro, RJ, 1976) participa da segunda, terceira, quarta coletâneas do Ideal Clube, nesta com "Adeus", e da sexta com "Caleidoscópio".
Marcus Túlio Dias Monteiro, graduado em Letras, tem livro de poemas editado. "Rua Verdadeira" se classificou em 9º. lugar no IV FUC e foi publicado em coletânea, e "Uma Noite Na Fortaleza Descalça" está na terceira coletânea do Ideal. Incluído também no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Íncubus: Um Passeio Pelos Sonhos Humanos".
Maria Amélia Barros Leal é uma das participantes de 10 Contistas Cearenses. F. S. Nascimento faz restrições a "O Elevador": "Sua aptidão kafquiana (sic) poderá conduzi-la a texturas bem mais urdidas, não lhe faltando talento e força criativa para alcançar melhor posição no panorama do conto no Ceará".
Maria Carolina Lobo: 10º. com "Crônica de Uma Morte Generosa", no I FUC.
Maria Thereza Leite tem obras premiadas. "Mosaicos" (1º. lugar) e "A Angústia das Árvores do Parque" estão na terceira coletânea do Ideal.
Marta Adalgisa Nunes (Santana do Cariri, CE, 1957), pós-graduada em língua portuguesa, estampou "A Viagem" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Max Victor Freitas: 10º. no II FUC, com "Júlia".
Napoleão Sousa Jr. (Fortaleza, 1969) apresentou alguns de seus contos em jornais e revistas e obteve alguns prêmios literários. Para a antologia O Talento Cearense em Contos teve selecionado "No Quintal". Faz parte do V Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1995, com "As Noites de Augustina", classificado em 4.º lugar. "Dente de Leite" obteve o 5.º lugar no II FUC. Participa também da antologia do II Prêmio Literário Domingos Olímpio, com "Casa de Fogos", e do terceiro, com "O Domador".
Natalício Barroso publicou em 2002 o livro Novelas Reunidas e, no ano seguinte, "O romance" (Revista Literatura n.º. 24).
Nuno Gonçalves Pereira nasceu no Recife, PE, em 1977. Publicou "O Canto das Onças" na revista Arraia n.º. 2 e "O Caminho da Novena" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, classificado em 1.º lugar no concurso que deu origem ao livro.
Osmar Menezes dos Santos participa da terceira coletânea de contos do Ideal Clube, com "Na Sala de Espera da Morte".
Otoniel Arilo Landim está na Antologia Literária do II Prêmio Domingos Olímpio, 1999, com "O Último Comboio" (3º.).
Paulo César Benício Mariano se classificou em 8º. no IV FUC, com "O Fogão", publicado em livro.
Paulo Henrique de Oliveira participa da terceira coletânea do Ideal, com "Vae Soli".
Paulo de Tarso Vasconcelos: 7º. no II FUC, com "O Olhar".
Raffaella Maria Duarte: 4º. no I FUC, com "Clara e Téo".
Raimundo Cavalcante dos Santos (Canindé, 1952) publicou um romance e uma peça de teatro. Com a narrativa "Xifópagos" participa do VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Raul Silveira Bento faz parte do VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "Noites Frias de Dezembro".
Révia Maria Herculano tem livro de poemas editado. "Saqueadores de Memórias" está na terceira coletânea do Ideal.
Ricardo Guilherme Vieira dos Santos (Fortaleza, 1955). Mais conhecido como ator, dramaturgo e diretor de teatro. Tem livros sobre teatro. Um dos vencedores do II Prêmio Ceará de Literatura, categoria conto, e ganhador (1.º lugar) do III (1992), com "A Minha Nêgo ou O Casulo e a Larva", de que resultaram coletâneas.
Roberto Vasconcelos Lima: "O Jogo", 6.º no XII Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 2003.
Rogério Santos Braga: 10.º com "Nota de Suicídio", no referido concurso.
Rogério da Silva e Souza tem "O Fortim de Santiago" na terceira coletânea do Ideal.
Rosel Ulisses Vasconcelos obteve alguns prêmios literários, como o 6.º lugar no IV Prêmio Literário Cidade de Fortaleza e o 7.º no V, com "O Tirano de Pedra". 1º. no IV FUC, com "A Missa de Evilásio Cintra", publicado em livro. Com "Dédalos" se fez presente na Antologia Literária (1º. Prêmio Domingos Olímpio de Literatura, 1998, Sobral) e com "Passos do Tempo" na segunda coletânea, do ano seguinte.
Ruth Maria de Paula Gonçalves, professora universitária, participa da terceira coletânea do Ideal, com "Tirados do Pé" (2º.) e "Tempo".
Sabrina Kelma Tomaz está no mesmo livro, com "Vale a Pena Lutar!"
Sânzio de Azevedo (Fortaleza, 1938), mais conhecido como ensaísta, historiador da Literatura Cearense e poeta, também escreve contos.
Sarah Diva Ipiranga participa da Antologia Literária do II Prêmio Domingos Olímpio, com "A Missão".
Soares Feitosa é poeta, mas já deu a conhecer contos, que seriam capítulos de um romance em construção.
Vânia Maria Ferreira Vasconcelos (Salvador, BA, 1961), mestra em Literatura Brasileira, mostrou "Segunda-feira" e "Fuxico" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Vanius Meton Gadelha Vieira (Fortaleza, 1944), psiquiatra, apresentou "O Último Colibri" no VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003.
Vilmar Ferreira de Souza: 2º. com "As Águas do Rio", no II FUC.
Zélia Maria Sales Ribeiro (Itapajé, CE, 1962), professora de Letras, participa do VI Prêmio Ideal Clube de Literatura, 2003, com "O Anjo".
9 – ANTOLOGIAS E PERIÓDICOS LITERÁRIOS NO CEARÁ
As primeiras antologias de contos apareceram, no Ceará, muito depois do surgimento de jornais e revistas voltados para a divulgação da literatura cearense.
A primeira delas é Uma Antologia do Conto Cearense (Imprensa Universitária do Ceará, Fortaleza, 1965). A única mencionada na bibliografia sumária de A Literatura Cearense, de Sânzio de Azevedo, de 1976. Com um estudo de Braga Montenegro, intitulado "Evolução e Natureza do Conto Cearense", apresenta obras de Artur Eduardo Benevides, Braga Montenegro, Eduardo Campos, Fran Martins, João Clímaco Bezerra, José Maia, Juarez Barroso, Lúcia Fernandes Martins, Margarida Sabóia de Carvalho, Milton Dias, Moreira Campos e Sinval Sá.
10 Contistas Cearenses – Antologia (Secretaria de Cultura e Desporto do Estado do Ceará, Fortaleza, 1981) é resultado do "Concurso Livreiro Edésio", promovido pela Livraria Edésio e pela Secretaria de Cultura. Seguindo a ordem de classificação no concurso, o livro traz peças de Airton Monte, Nilto Maciel, Alberto Santiago Galeno, Nilze Costa e Silva, César Barros Leal, Waldy Sombra, Fernando Câncio Araújo, Maria Ilma de Lira, Valdemir de Castro Pacheco e Maria Amélia Barros Leal. A apresentação é de F. S. Nascimento, um dos ajuizadores do concurso.
Antologia do Conto Cearense (Edições Tukano, Fortaleza, CE, 1990) foi organizada por Mary Ann Leitão Karan. Embora tenha pouco mais de cem páginas, inclui principiantes ao lado de consagrados, num total de 15 participantes, deixando de lado contistas com livros publicados, até mesmo por grandes editoras, além de serem verbetes em enciclopédias de Literatura Brasileira.
O Talento Cearense em Contos (Editora Maltese, São Paulo, SP, 1996) é obra de Joyce Cavalcante, como organizadora. Com mais de 200 páginas, incluiu 31 contistas. E também esqueceu alguns nomes importantes do conto cearense, como Airton Monte, Caio Porfírio Carneiro, Francisco Sobreira e Nilto Maciel.
Há também antologias mais abrangentes, isto é, que apresentam contos, crônicas e capítulos de romances ao lado de poemas. Em "A Literatura Cearense e a Cultura das Antologias" (FM, págs. 119/134), Batista de Lima relaciona e comenta, uma a uma, as antologias literárias publicadas no Ceará. Segundo ele, a primeira dessas coletâneas a apresentar prosa de ficção, ao lado de versos, se trata de Os Novos do Ceará, no primeiro centenário da independência do Brasil, editada em 1922 e organizada por Aldo Prado. Informa ainda: "Quanto aos textos em prosa, há dos mais variados tipos: são contos, pequenos ensaios e algumas crônicas com tom doutrinário".
A quinta antologia da Literatura Cearense – informa Batista de Lima – é a segunda a apresentar prosa e verso. Editada em 1957, Antologia Cearense, organizada pela Academia Cearense de Letras, mostra 102 escritores dos séculos 19 e XX.
Em 1966 foi divulgada Terra da Luz, dividida em duas partes: "Poetas Cearenses" e "Prosadores do Ceará". Em 1998 o Diário do Nordeste patrocinou a segunda edição, atualizada, a cargo de Carlos d’Alge, desta feita subdividida em dois volumes. Um deles traz o subtítulo Prosadores e vai de José de Alencar a Paulo Bonavides. No entanto, muitos dos contistas aparecem com capítulos de romances. Contos mesmo, ou trechos de contos, somente de Herman Lima, João Jacques, Fran Martins, Moreira Campos e Eduardo Campos.
Em 1976 Sânzio de Azevedo apresentou a volumosa obra intitulada Literatura Cearense, "a mais completa das nossas antologias", na opinião de Batista de Lima.
Outro exemplo desse tipo de antologia é Letras ao Sol – Antologia da Literatura Cearense. Organizada por Oswald Barroso e Alexandre Barbalho, publicou-se em 1996, com selo da Editora Maltese, de São Paulo, e apoio da Fundação Demócrito Rocha, do Ceará. Contos e trechos de contos somente de Oliveira Paiva, Herman Lima, Moreira Campos, Juarez Barroso, Airton Monte e Gilmar de Carvalho.
Há, ainda, antologias resultantes de concursos literários, muitas delas compostas de contos e poemas. Por sua imensa variedade e terem sido mencionadas no decorrer do ensaio, não serão relacionadas neste capítulo.
Os periódicos, no século 19 e princípios do XX, nem sempre estiveram relacionados a grupos ou movimentos literários. Dolor Barreira afirma: "As revistas e jornais exclusivamente ou em parte literários surgem todos os anos, copiosamente, sendo de notar-se que entre 1850 e 1932 o Barão de Studart catalogou duzentos e vinte e quatro deles".
Uma das mais citadas em estudos é a revista A Quinzena, do Clube Literário, que circulou de janeiro de 1887 a junho de 1888, perfazendo 30 números. Em suas páginas estamparam-se contos de Oliveira Paiva, Francisca Clotilde, José Carlos Ribeiro Júnior, poemas de Juvenal Galeno, colaborações literárias de outros membros do Clube e convidados, como o contista catarinense Virgilio Varzea. Como o nome indica, o jornal circulava quinzenalmente e era vendido por assinatura e nas ruas.
Outros importantes órgãos da imprensa literária da época foram O Domingo, Revista Contemporânea, Ceará e A Avenida. O primeiro apareceu em 1888 e nele se publicaram contos cearenses e também de outros Estados.
Na reflexão de Dolor Barreira, "quem estuda as letras do Ceará, sem ânimo prevenido, nos anos que medeiam entre 1890 e 1900, não pode deixar de ocupar-se, algum pouco, com a Revista Moderna", fundada em 1891, publicada mensalmente e dirigida por Adolfo Caminha. No capítulo seguinte de sua portentosa obra, o historiador lembra mais três periódicos daquele período: O Ceará Ilustrado, a Galeria Cearense e A Pena.
O jornal O Pão, da Padaria Espiritual, fundada em 1892, teve editado o primeiro número em 10 julho, com o anúncio de que seria publicado somente aos domingos, "não se acceitam assignaturas" e "não se acceita collaboração". Além de poemas, publicava contos, artigos etc. Lopes Filho assina o "conto popular" intitulado "O Dia Aziago" como Anatolio Gerval, no n.º. 2, enquanto Arthur Theophilo assina "A Morte da Avó", acrescentado do pseudônimo Lopo de Mendoza, no n.º. 7. O periódico teve duas vidas: A primeira editou seis números e a segunda se iniciou em 1895 e terminou em outubro de 1896.
O Centro Literário surgiu em 1894 e imprimiu a revista Iracema a partir do ano seguinte até 1896. A Academia Cearense, fundada em 1894, criou a Revista da Academia Cearense, que circulou até 1914. Dela surgiu a Academia Cearense de Letras. Outro periódico literário de relevância é Cipó de Fogo, de 1929, dirigido por João Jacques, como veículo de divulgação das idéias e obras do modernismo cearense. O Grupo Clã surgiu em 1943. A revista Clã teve editado o primeiro número em 1946.
Estes órgãos estão muito bem estudados em dicionários, enciclopédias e histórias da Literatura, razão pela qual se dará destaque, neste estudo, às revistas e jornais surgidos após o Grupo Clã.
Nota-se, ainda, a inexistência, no Ceará, de revistas dedicadas exclusivamente ao conto, à narrativa curta. Em outros países e mesmo no Brasil também elas não são muito freqüentes. No México, no século XX, a revista El Cuento chegou a ser divulgada no Brasil. No Rio de Janeiro a revista Ficção perdurou por algum tempo, no final dos anos 1970. Mensal, publicava contos de escritores brasileiros novos ou em plena atividade. Nos anos 1980 surgiu Ficções, da Editora Mercado Aberto, do Rio Grande do Sul, e em 1998 apareceu outra Ficções, no Rio de Janeiro (Editora Sette Letras). A explicação mais provável para que isto ocorresse e ocorra pode ser o pequeno número de contistas, em relação aos poetas e romancistas. Veja-se que ao tempo do Grupo Clã poucos foram os contistas mais fecundos. O mesmo se pode dizer em relação ao período seguinte, quando surgiu O Saco. Talvez apenas cerca de dez escritores se dedicassem ao conto. Só recentemente esse número aumentou, como se pode verificar quando se folheiam Seara e Espiral.
Vejam-se, em resumo, as principais revistas literárias surgidas no Ceará após 1970.
O Saco Cultural, idealizado e dirigido por Manoel Coelho Raposo, Jackson Sampaio, Carlos Emílio e Nilto Maciel, teve impresso o primeiro número em abril de 1976. O último saiu em fevereiro de 1977. Dividido em quatro cadernos, acondicionados em um saco de papel (a capa), num deles (Prosa) apresentou contos dos cearenses Airton Monte, Alcides Pinto, Antônio Girão Barroso, Barros Pinho, Carlos Emílio Correa Lima, Fernanda Gurgel do Amaral, Francisco Sobreira, Fran Martins, Gilmar de Carvalho, Hugo Barros, Jackson Sampaio, João Teixeira, José Domingos Alcântara, José Hélder de Souza, Joyce Cavalcante, Juarez Barroso, Marcondes Rosa, Moreira Campos, Nilto Maciel, Oliveira Paiva, Papi Júnior, Paulo Véras, Renato Saldanha, Roberto Aurélio e Yehudi Bezerra.
A história desta revista, bem como a análise de seus fundamentos ideológicos, o leitor poderá conhecer melhor no livro Cultura e Imprensa Alternativa, de Alexandre Barbalho.
Siriará – Uma Revista Literária foi o órgão do grupo do mesmo nome. O Grupo Siriará surgiu oficialmente em 1979, após a divulgação de um manifesto, datado de 14 de julho daquele ano. É desta data a publicação do n.º 1 (e único) de Siriará – Uma Revista Literária. Nele se estamparam, além de poemas e desenhos, contos de Carlos Emílio, Geraldo Markan, Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral, Nilto Maciel, Jackson Sampaio, Eugênio Leandro, Paulo Véras e Airton Monte.
Seara – Revista de Literatura surgiu em 1986, em Fortaleza, como órgão do Grupo Seara. O editorial do n.º 2 (1986) se refere ao surgimento do grupo, "um conjunto também heterogêneo: dez mulheres que fazem do exercício de linguagem escrita não um meio de extravasar seus anseios e frustrações íntimas, porém um vigoroso e assumido trabalho de criação artística". A partir do n.º 5 mudou o formato 15x21 para o 21x28, passando a ser editada em Brasília e tendo como Conselho Editorial Beatriz Alcântara, Marly Vasconcelos e Samira Abrahão. O último número, o sétimo, é de 1991, sob a coordenação geral de Beatriz. Divulgou contos das principais contistas cearenses do final do século XX, como Ângela Barros Leal, Beatriz Alcântara, Glícia Rodrigues, Inez Figueredo, Isa Magalhães, Joyce Cavalcante, Marisa Biasoli, Marly Vasconcelos, Mary Ann Leitão Karam, Nilze Costa e Silva e Regine Limaverde.
O Pão teve início em 1992 (o primeiro número é de 30 de maio) e durou alguns anos. O nome do jornal da Padaria Espiritual deu fama ao periódico do poeta Virgílio Maia. Nele se publicavam poemas, contos, artigos, desenhos.
Espiral: Revista Literária apareceu em 1995, sob a coordenação geral de Beatriz Alcântara, secundada por Dimas Macedo, Márcia Arbex, Marly Vasconcelos e Francisco Nóbrega. A proposta desta nova revista é mais abrangente, não mais se limitando a divulgar somente obras de escritoras. O primeiro número traz as seções intituladas poesia, conto, ensaio, homenagem, entrevista e livros. Os contos são das cearenses Inez Figueredo, Lena Ommundsen, Joyce Cavalcante, Erika Ommundsen Pessoa e Nilze Costa e Silva e de Nilto Maciel. No segundo número aparecem outras seções: crônica, glossário, memória, artigo e centenário. A revista passa a ter o subnome "Revista de Literatura". Expande-se o leque de colaboradores, agora de todo o Brasil. Os nomes do editor, coordenador geral e dos membros do conselho editorial foram se revezando ao longo das edições, a partir do n.º 2, com a incorporação de João Dummar Filho, como editor. O número 7 saiu em 2002.
Almanaque de Contos Cearenses, embora não tenha sido criado como revista, pode ser considerado a única revista cearense de contos. Um dos primeiros atos do grupo se deu quando, em janeiro de 1997, alguns escritores se reuniram sob as árvores do bosque do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará e, com a presença de Dona Zezé Moreira Campos e Natércia Campos, esposa e filha do contista Moreira Campos, batizaram o local de Bosque Moreira Campos. Participaram da solenidade os escritores Alano de Freitas, Alba Alves, Audifax Rios, Astolfo Lima Sandy, Caio Porfírio Carneiro, Dimas Carvalho, Dimas Macedo, Jorge Pieiro, Napoleão Souza Jr., Natércia Campos, Nilto Maciel, Paulo de Tarso Pardal, Pedro Rodrigues Salgueiro, Sânzio de Azevedo e Tércia Montenegro. Na ocasião foi lançada a idéia do Almanaque. Meses depois saiu a edição do n.º 1 da referida publicação, sob a direção de Elisangela Matos, Pedro Rodrigues Salgueiro e Tércia Montenegro. Dividido em duas partes, a primeira intitula-se "Arquivo/Memória" e visa "resgatar contos perdidos em periódicos ou não reeditados". Apresenta contos de Adolfo Caminha, Otávio Lobo, Moreira Campos e Juarez Barroso. A segunda – "Inéditos/Dispersos" – objetiva mostrar ao público contos de diversas gerações. É a vez dos contistas em atividade, desde os mais velhos aos mais novos: Eduardo Campos, José Alcides Pinto, Caio Porfírio Carneiro, Natércia Campos, Nilto Maciel, Audifax Rios, Astolfo Lima Sandy, Batista de Lima, Ronaldo Correia de Brito, Alano Freitas, Pardal, Carlos Emílio Corrêa Lima, Jorge Pieiro, Luís Marcus da Silva, Dimas Carvalho, Pedro Salgueiro, Napoleão Sousa Jr, Luciano Bonfim e Tércia Montenegro.
Literapia – Revista de Literatura da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores surgiu em julho de 1999, sob a direção do poeta Pedro Henrique Saraiva Leão. Apesar de se tratar de publicação de uma entidade de médicos, tem publicado poemas, contos, crônicas, artigos de escritores em geral.
Literatura – Revista do Escritor Brasileiro nasceu em Brasília (janeiro de 1992), por iniciativa de Nilto Maciel, e até o n.º 23, relativo ao segundo semestre de 2002, se imprimiu na Capital da República. A partir de então passou a se editar em Fortaleza. Traz entrevista, artigos e ensaios de literatura, poemas, contos etc.
10 – SÍNTESE CRONOLÓGICA
Neste quadro estão anotados, em ordem cronológica, os títulos dos livros de contos estudados ou apenas mencionados (ano da publicação em primeira edição) no estudo, seguidos dos nomes dos autores, bem como de algumas antologias. E também fatos da História da Literatura Cearense, tais como o surgimento de grupos e periódicos literários.
1856 – Cinco Minutos (plaqueta, fora do mercado) – José de Alencar.
1860 – Cinco Minutos e A Viuvinha – José de Alencar.
1861 – Trindade Maldita (Contos no Botequim) – Franklin Távora.
1868 – Contos Brasileiros – Araripe Júnior.
1871 – Cenas Populares – Juvenal Galeno.
1886 – Fundação do Clube Literário.
1887 – Aparecimento do jornal A Quinzena, do Clube Literário, onde se publicaram contos de Oliveira Paiva e outros.
1889 – Ciências Naturais em Contos – Rodolfo Teófilo.
1892 – Criação da Padaria Espiritual e do jornal O Pão, no qual se publicaram contos de Artur Teófilo e outros.
1894 – Contos do Ceará – Eduardo Sabóia.
1894 – Criação do Centro Literário e de sua revista Iracema, que passou a se imprimir no ano seguinte.
1895 – Diferentes – Quintino Cunha.
1895 – Miudinhos – Fernando Weyne.
1897 – Perfis Sertanejos – José Carvalho.
1897 – Coleção de Contos – Francisca Clotilde.
1898 – Isaura – José Pereira Martins.
1901 – Em Sonhos – Alba Valdez (pseudônimo de Maria Rodrigues Peixe).
1907 –Histórias da vida e da morte e Um coração sensível – Tomás Lopes.
1910 – Caras e corações – Tomás Lopes.
1910 – O Conduru – Rodolfo Teófilo.
1912 – Livro Truncado – Oscar Lopes
1915 – Praias e Várzeas – Gustavo Barroso.
1918 – O Cisne Branco – Tomás Lopes.
1920 – Seres e Sombras – Oscar Lopes. Não há data da publicação de Maria Sidney.
1920 – Ronda dos Séculos – Gustavo Barroso.
1922 – Mula-sem-cabeça e Pergaminhos – Gustavo Barroso.
1922 – Torturas do Desejo – Carlos de Vasconcelos.
1924 – Alma Sertaneja, Mapirunga, O Bracelete de Safiras (s/d), Livro dos Milagres, Cinza do Tempo (s/d) – Gustavo Barroso.
1924 – Tigipió – Herman Lima.
1928 – A Mãe-da-Água – Herman Lima.
1929 – Flagrantes ao Sol do Norte – Santino Gomes de Matos
1931 – Idéia Fixa – Antônio Furtado, Rio de Janeiro.
1933 – Rincões dos Frutos de Ouro, premiado pela Academia Brasileira de Letras – Sabóia Ribeiro.
1933 – Mulheres de Paris – Gustavo Barroso.
1934 – Manipueira – Fran Martins.
1934 – Impróprio para Menores – R. Magalhães Júnior.
1936 – Fuga e Outros Contos – R. Magalhães Júnior.
1939 – O Livro dos Enforcados – Gustavo Barroso.
1943 – Sapupema (contos amazônicos) – José Potyguara ou Potiguara.
1943 – Surgimento do Grupo Clã, a revista do mesmo nome e as Edições Clã.
1943 – Águas Mortas – Eduardo Campos
1946 – Face Iluminada – Eduardo Campos.
1946 – Noite Feliz – Fran Martins.
1946 – Uma Chama ao Vento, reeditado em 1980 pelas Edições UFC – Braga Montenegro.
1948 – Mar Oceano – Fran Martins.
1949 – Vidas Marginais – Moreira Campos.
1949 – A Viagem Definitiva – Eduardo Campos.
1954 – Contos – Papi Júnior, publicação da Academia Cearense de Letras.
1955 – Açude e Outros Contos – F. Magalhães Martins.
1955 – Trevo de quatro folhas – Cândida Galeno (Nenzinha Galeno).
1957 – Portas Fechadas – Moreira Campos.
1958 – Caminho sem horizonte – Artur Eduardo Benevides.
1960 –Alma Rude, contos regionais – Carlyle Martins.
1960 – O Amigo de Infância – Fran Martins.
1960 – Sete Estrelo – Milton Dias. Seguiram-se As Cunhãs, A Ilha do Homem Só, Entre a Boca da Noite e a Madrugada, Cartas sem Resposta, As Outras Cunhãs e A Capitoa, todos subintitulados "estórias e crônicas".
1961 – Trapiá – Caio Porfírio Carneiro.
1963 – O Brasileiro Perplexo – Rachel de Queiroz.
1963 – As Vozes do Morto – Moreira Campos.
1964 – A Vida em Contos – Margarida Sabóia de Carvalho.
1965 – Uma Antologia do Conto Cearense (Imprensa Universitária do Ceará), com apresentação de Braga Montenegro.
1965 – Os Grandes Espantos – Eduardo Campos.
1965 – Editor de Insônia – José Alcides Pinto.
1965 – Publicação do ensaio "Evolução e Natureza do Conto Cearense", de Braga Montenegro.
1966 – Contos do Cacau – Sabóia Ribeiro.
1967 – As Danações – Eduardo Campos.
1968 – O Abutre e Outras Estórias – Eduardo Campos.
1969 – O Puxador de Terço – Moreira Campos.
1969 – Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal – Juarez Barroso.
1969 – Os Meninos e o Agreste – Caio Porfírio Carneiro.
1970 – O Tropel das Coisas – Eduardo Campos.
1971 – Histórias de Trancoso – Cruz Filho.
1972 – A Morte Trágica de Alain Delon – Francisco Sobreira.
1972 – Exercício Para o Salto – Cláudio Aguiar.
1972 – Os Olhos do Lixo – Socorro Trindad.
1972 – A Coleira de Peggy – Holdemar Menezes.
1973 – Pluralia Tantum – Gilmar de Carvalho.
1974 – Itinerário – Nilto Maciel.
1975 – O Casarão – Caio Porfírio Carneiro.
1976 – Surgimento da revista O Saco Cultural.
1976 – As Viagens e Outras Ficções, (novelas e contos), mais uma seleção dos Contos Derradeiros, até então inéditos em livro – Braga Montenegro.
1976 – Publicação, em livro, dos Contos de Oliveira Paiva.
1976 – Joaquinho Gato – Juarez Barroso.
1976 – O Menino D’água – Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral.
1977 – Chuva – Os Dez Cavaleiros – Caio Porfírio Carneiro.
1977 – Depoimento de um Sábio – Cláudio Aguiar.
1977 – Milagre na Salina (catalogado como romance) – Mario Pontes.
1977 – Coisas & Bichos – José Hélder de Souza.
1977 – O Barco Naufragado – Holdemar Menezes.
1977 – Tocaia – Yehudi Bezerra.
1978 – Os Doze Parafusos – Moreira Campos.
1978 – Cada Cabeça uma Sentença – Socorro Trindad.
1978 – Reencontro – Glória Martins.
1978 – A Sonda Uretral – Holdemar Menezes.
1979 – Forma-se o Grupo Siriará, que edita um número de Siriará – Uma Revista Literária.
1979 – A Morte do Anjo da Guarda – Martins d’Alvarez.
1979 – A Noite Mágica – Francisco Sobreira.
1979 – Piero Della Francesca ou As Vizinhas Chilenas – Gerardo Mello Mourão.
1979 – O Mundo Refletido nas Armas Brilhantes do Guerreiro – Geraldo Markan.
1979 – O Grande Pânico – Airton Monte.
1979 – O Cabeça-de-Cuia – Paulo Véras.
1980 – Não Enterrarei os Meus Mortos – Francisco Sobreira.
1980 – O Jogador de Sinuca – Rachel de Queiroz.
1980 – Dia da Caça – Eduardo Campos.
1980 – Canoa Quebrada – Oniricrônicas – Geraldo Markan.
1980 – Contagem Depressiva – Simone Gadelha.
1981 – 10 Contistas Cearenses (antologia) – Apresentação de F. S. Nascimento.
1981 – Tempos de Mula Preta – Nilto Maciel.
1981 – O Contra-Espelho – Caio Porfírio Carneiro.
1981 – Homem Não Chora – Airton Monte.
1981 – Viagem – Nilze Costa e Silva.
1983 – Um Dia ... os Mesmos Dias – Francisco Sobreira.
1983 – A Estranha Estória de Bebeto Areião – José Maria Leitão.
1983 – A Viúva Fanática – Pery Augusto Bezerra. Publicou também Catarina e Outras Histórias Curtas de Amor.
1983 – Raios de Sol – Furtado Neto.
1983 – Alba Sangüínea – Airton Monte.
1983 – Seu Defunto e Outro – Pedro Wilson Rocha.
1983 – Conversa Fiada – Teoberto Landim.
1983 – Garoto de Baturité – Reginaldo Dutra.
1984 – Reflexões. Terror. Sobrenatural. Outras estórias – José Alcides Pinto.
1984 – Ofos – Carlos Emílio Corrêa Lima.
1984 – Caco de Vidro – Pedro Wilson Rocha.
1984 – A Lenda das Estrelinhas Magras – Rosemberg Cariry.
1984 – Os eleitos para o sacrifício – Holdemar Menezes.
1985 – A Grande Mosca no Copo de Leite – Moreira Campos.
1985 – Viagem sem Volta – Caio Porfírio Carneiro.
1985 – O Discurso da Mulher Absurda – Joyce Cavalcante.
1985 – Quinze Casos Contados – Ribamar Lopes.
1986 – Sai o primeiro número de Seara – Revista de Literatura, como órgão do Grupo Seara.
1986 – Punhalzinho Cravado de Ódio – Nilto Maciel.
1987 – Dizem que os Cães Vêem Coisas – Moreira Campos.
1987 – Já Fez a sua Fezinha Hoje?– Audifax Rios.
1987 – Ofícios de Desdita – Jorge Pieiro.
1987 – Psiu, o síndico pode estar ouvindo! – Leonisa Maria Magalhães de Souza.
1988 – Iluminuras – Natércia Campos.
1988 – Dilúvio – Nilze Costa e Silva.
1989 – Análise – Fran Martins.
1989 – O Tempo Está Dentro de Nós – Francisco Sobreira.
1989 – Os Dedos e os Dados – Caio Porfírio Carneiro.
1989 – Fragmentos de Panaplo – Jorge Pieiro
1989 – Último Ato – Beth Moreira Lima
1990 – Viagem e outras histórias – Roberto Amaral.
1990 – Antologia do Conto Cearense, organizada por Mary Ann Leitão Karan.
1991 – As Insolentes Patas do Cão – Nilto Maciel.
1992 – Rio dos Ventos – José Hélder de Souza.
1992 – Mergulhador de Acapulco – Sérgio Telles.
1992 – As Leves e Duras Quedas do Amor – Regine Limaverde.
1992 – Surge o jornal O Pão, dirigido por Virgílio Maia.
1993 – O Escrivão das Malfeitorias – Eduardo Campos.
1993 – Clarita – Francisco Sobreira.
1993 – D’aquém e D’além Mar – Beatriz Alcântara.
1993 – A Mulher de Passagem – Carlos d’Alge.
1993 – Itinerário do Reino da Barra – Dimas Carvalho.
1995 – O Navio Morto e Outras Tentações do Mar – Moacir C. Lopes.
1995 – A Partida e a Chegada – Caio Porfírio Carneiro.
1995 – Grandes Amizades – Francisco Sobreira.
1995 – Histórias do Começo do Mundo (7 Contos Minúsculos) – Alano de Freitas.
1995 – Margem Oculta – Paulo de Tarso Pardal.
1995 – O Peso do Morto – Pedro Salgueiro.
1995 – É criada Espiral: Revista Literária.
1996 – O Irresistível Charme da Insanidade – Ricardo Kelmer.
1996 – As Noites e os Dias – Ronaldo Correia de Brito.
1996 – O Espantalho – Pedro Salgueiro.
1996 – O Talento Cearense em Contos, antologia organizada por Joyce Cavalcante.
1997 – Crônica do Amor e do Ódio – Francisco Sobreira.
1997 – Babel – Nilto Maciel.
1997 – O Pescador da Tabocal – Batista de Lima.
1997 – Guia Prático para Sobrevivência no Final dos Tempos – Ricardo Kelmer.
1997 – O Caçador – Rinaldo de Fernandes.
1997 – Velhos Contos, Novos Contos – Zorrillo de Almeida Sobrinho.
1997 – Publica-se o Almanaque de Contos Cearenses.
1998 – A Borboleta Acorrentada – Eduardo Campos.
1998 – Mão de Martelo e Outros Contos – Astolfo Lima Sandy.
1998 – O Vendedor de Judas – Tércia Montenegro.
1998 – Na trilha dos Matuiús – José Costa Matos.
1998 – A Miragem do Espelho – Carlos Gildemar Pontes.
1999 – Andante com Morte – Mario Pontes.
1999 – A Casa do Morro Branco – Rachel de Queiroz.
1999 – Noturnos – Ana Miranda.
1999 – Foi na Seca do 19 – Lustosa da Costa.
1999 – Pescoço de Girafa na Poeira – Nilto Maciel.
1999 – Difícil Enganar os Deuses – Paulo de Tarso Pardal.
1999 – Glórias e Vanglórias – Vasco Damasceno Weyne.
1999 – Sai o primeiro número de Literapia – Revista de Literatura da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, sob a direção do poeta Pedro Henrique Saraiva Leão.
1999 – Caos Portátil – Jorge Pieiro.
1999 – O Pranto Insólito – Eduardo Campos.
2000 – Pequenas Histórias Matutas – José Hélder de Souza.
2000 – Histórias de Zoologia Humana – Dimas Carvalho.
2000 – Brincar Com Armas – Pedro Salgueiro.
2000 – O Pranto Insólito – Eduardo Campos.
2001 – Sobre o Mundo – José Peixoto Júnior.
2001 – A Revolta do Computador e Outros Contos de Mistério – Artur Eduardo Benevides.
2001 – Linha Férrea – Tércia Montenegro.
2002 – Reunidos, em livro, 11 contos de Adolfo Caminha, por Sânzio de Azevedo, sob o título Contos, pela Editora da UFC.
2002 – A arte de engolir palavras – Lourdinha Leite Barbosa.
2002 – A Viúva do Vestido Encarnado – Barros Pinho.
2002 – Peixe de Bicicleta – Sérgio Telles
2002 – Janeiro é Um Mês Que Não Sossega – Batista de Lima.
2002 – Dançando com Sapatos que Incomodam – Luciano Gutembergue Bonfim.
2002 – Sobre a Gênese e o Caos – João Soares Neto.
2003 – Faca – Ronaldo Correia de Brito.
2003 – Fábulas Perversas – Dimas Carvalho.
2003 – Sob Eros e Thanatos – Giselda Medeiros.
2003 – Mosaicos – Maria Thereza Leite.
2003 – Se Me Contam, Eu Conto – Regine Limaverde.
2003 – Um Homem Chamado Noel – Mario Pontes
2004 – Chame os Meninos – Lucineide Souto
11 – CONCLUSÃO
Nas milhares de páginas pesquisadas para a elaboração deste estudo foram localizados centenas de contistas, desde o século 19 até hoje. Infelizmente muitos contos devem ter se perdido. De alguns escritores foi possível resgatar parte de seus contos, como é o caso de Adolfo Caminha e Oliveira Paiva, graças aos esforços de historiadores, pesquisadores, estudiosos e ensaístas como Braga Montenegro e Sânzio de Azevedo. Assim também o norte-americano Walter Toop, que colaborou na pesquisa de jornais do Rio de Janeiro, para o resgate de contos de Adolfo Caminha. Outro nome inesquecível é o de Rolando Morel Pinto, sem dúvida o maior estudioso do criador de Dona Guidinha do Poço. Graças a eles os dois romancistas tiveram contos reunidos em livro.
Em relação aos novos, a dificuldade de chegar às suas obras é de outra natureza: muitos ainda não publicaram livro de conto e alguns daqueles que o fizeram não aparecem com freqüência nas páginas dos jornais e, em razão disso, seus livros parecem inéditos. Assim, é possível que alguns contistas não tenham sido citados no decorrer destas páginas.
Observa-se o quanto a forma do conto cearense se transformou ao longo do tempo, acompanhando os modelos universais. Assim, do conto curto, de estrutura rígida, vocabulário rico, frase bem torneada, de feição realista e às vezes romântica, como em Oliveira Paiva e Adolfo Caminha, se passou à narrativa mais próxima do regionalismo que mais tarde viria dar no chamado "romance de 30", e também do naturalismo, como em Gustavo Barroso e Herman Lima. Mais tarde, com o Grupo Clã, o conto se agigantou, como em Braga Montenegro, se acumulou de diálogos, se apropriou da psicologia, se valeu mais da linguagem oral e popular e se voltou para os temas mais pertinentes às pessoas mais pobres da cidade e do campo, como em Fran Martins, Eduardo Campos e Moreira Campos. Nessa trilha também seguiu Juarez Barroso, embora dando ao conto um feitio mais jocoso ou tragicômico. José Alcides Pinto buscou (e busca) outros caminhos, entre o fantástico, o escabroso e o inusitado. Caio Porfírio Carneiro, autor de vasta obra, ainda em construção, preferiu o conto mais curto, mais enxuto, mais preocupado com o tema do que propriamente com a linguagem ou a forma, sem delas se descuidar. Mario Pontes é outro que prefere o conto mais longo e, ao mesmo tempo, elaborado com zelo de artesão erudito. Francisco Sobreira é de outra linha: a do conto curto, tradicional, com enredo claro. Pode-se ainda dizer que a maioria dos contistas cearenses surgidos por volta de 1970 buscaram novas formas de narrar, novas técnicas, novos desenhos de linguagem, uns fascinados pela frase labiríntica (Carlos Emílio), outros pelo enredo furtivo e poético (Airton Monte, Natércia Campos, Barros Pinho). Os mais novos, em plena juventude criadora, buscam caminhar com seus próprios pés, porém lembrados de que o chão é o mesmo para todos, e recriam o fantástico (Dimas Carvalho), o maravilhoso (Tércia Montenegro), o absurdo (Jorge Pieiro), o fabuloso (Pedro Salgueiro), o real (Astolfo Lima Sandy), o regional (Batista de Lima).
Outros e outros contistas cearenses virão, sorrateiramente, um conto num jornal, outro numa coletânea, até chegar ao livro. Outros surgirão de surpresa, com livro repleto de novidades formais, como se surgidos para assustar os mais velhos, os mais apegados a fórmulas ultrapassadas. Outros, no entanto, porão a cabeça para fora do buraco, dirão "eu também existo" e logo desaparecerão na poeira do tempo. É sempre assim.
Esta obra de pesquisa não pretende ser a maior nem a melhor, no gênero. Lacunas poderão ser encontradas. Por que fulano não foi sequer mencionado? Por que sicrano mereceu apenas poucas palavras, enquanto beltrano ocupou páginas e páginas? Se outra edição dela vier, o autor pretende corrigir os defeitos. Se não vier, que sirva pelo menos de ponto de partida para livro maior e melhor.
BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA
– Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa. Enciclopédia de Literatura Brasileira, Rio de Janeiro, Ministério da Cultura, 1990.
– Alexandre Barbalho. Cultura e Imprensa Alternativa: a revista de cultura O Saco, Fortaleza, Editora da UECE, 2000.
– Alfredo Bosi. História Concisa da Literatura Brasileira, São Paulo, SP, Editora Cultrix, 3 a. Edição, 1988.
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– Batista de Lima. O Fio e a Meada: Ensaios de Literatura Cearense, Fortaleza, Universidade de Fortaleza, 2000.
– _________ Moreira Campos: A Escritura da Ordem e da Desordem. Fortaleza, Secretaria de Cultura do Ceará, 1993.
– Braga Montenegro. Evolução e natureza do conto cearense, in Uma Antologia do Conto Cearense, Fortaleza, Imprensa Universitária do Ceará, 1965.
– ________ Eduardo Campos, Contista, in O Abutre e Outras Estórias, Fortaleza, Imprensa Universitária do Ceará, 1968.
– Carlos d’Alge. Antologia Terra da Luz – Prosadores. Diário do Nordeste, Fortaleza, 1998.
– Dias da Silva. Da Pena ao Vento – III (Anotações de Pé de Página), Fortaleza, RBS Editora, 2001.
Dimas Macedo. Leitura e Conjuntura, Fortaleza, UFC/Casa de José de Alencar, 1995.
_________ Crítica Imperfeita, Fortaleza, Imprensa Universitária, 2001.
__________ Crítica Dispersa, Fortaleza, Expressão Gráfica/Funcet, 2003.
– Dolor Barreira. História da Literatura Cearense. 4 volumes. Fortaleza, Editora Instituto do Ceará, 1948.
– Francisco Carvalho. Exercícios de Literatura, Fortaleza, UFC/Casa de José de Alencar, 1990.
– ________ Textos e Contextos, Fortaleza, UFC/Casa de José de Alencar, 1995.
– ________ Rascunhos e Resenhas, Fortaleza, UFC/Casa de José de Alencar, 2001.
– F. S. Nascimento. Três Momentos da Ficção Menor, Fortaleza, Secretaria de Cultura do Ceará, 1981.
– _______ Apologia de Augusto dos Anjos e Outros Estudos, Fortaleza, UFC/Casa de José de Alencar, 1990.
– Hélio Pólvora. Itinerário do Conto: Interfaces Críticas e Teóricas da Moderna Short Story, Editora da Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia, 2002.
– Herman Lima. Evolução do Conto, in A Literatura no Brasil, volume 6, direção de Afrânio Coutinho, 3a edição, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1986.
– José Alcides Pinto. Política da Arte; Ensaios de Crítica Literária. Fortaleza, Secretaria de Cultura do Ceará, 1981.
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– José Hélder de Souza. Milton Dias, entre a crônica e o conto, in De Mim e das Musas, Brasília, André Quicé Editor, 1982.
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– _________ Adolfo Caminha (Vida e Obra), UFC, 2a. Edição, Fortaleza, 1999.
– Temístocles Linhares. 22 Diálogos Sobre o Conto Brasileiro Atual, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1973.
Obs: Não constam desta bibliografia os títulos das obras literárias dos contistas mencionados, vez que citados no texto principal, assim como dos artigos e ensaios publicados em periódicos. Da mesma forma, não aparecem os títulos das antologias e coletâneas originadas de concursos literários e os nomes dos periódicos literários dos quais foram extraídas informações, sendo certo que esses títulos e nomes estão mencionados nos apontamentos dos nomes dos contistas neles incluídos ou estudados.
Nilto Maciel (Baturité, 1945) é um dos fundadores de O Saco. Publicou as seguintes coleções: Itinerário, 1.ª ed. 1974, 2.ª ed. 1990, João Scortecci Editora, São Paulo, SP; Tempos de Mula Preta, 1.ª ed. 1981, Secretaria da Cultura do Ceará; 2.ª ed. 2000, Papel Virtual Editora, Rio de Janeiro, RJ; Punhalzinho Cravado de Ódio, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará.; As Insolentes Patas do Cão, 1991, João Scortecci Editora, São Paulo, SP; Babel, 1997, Editora Códice, Brasília; e Pescoço de Girafa na Poeira, 1999, Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, Brasília. Tem novelas, romances e poemas em livros. Pertenceu ao Grupo Siriará. Editor, desde 1991, em Brasília, da revista Literatura. Em 2003 a transferiu para Fortaleza. Suas narrativas mereceram artigos e ensaios de alguns comentaristas e críticos cearenses, como F. S. Nascimento, Sânzio de Azevedo, Dimas Macedo, Batista de Lima, Francisco Carvalho, Caio Porfírio Carneiro, Carlos Augusto Viana, e também de outros Estados, como Foed Castro Chamma, Tanussi Cardoso, Francisco Miguel de Moura, Ronaldo Cagiano e Astrid Cabral. Tem contos traduzidos para o espanhol, o italiano e o esperanto. Ganhou alguns prêmios também no gênero conto. E-mail: niltomaciel@uol.com.br